segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Por que 25 de Dezembro?

      Natal é uma festa genuinamente cristã. Entretanto é comemorado sempre no dia 25 de dezembro, contrariando as outras comemorações da Igreja Católica, que se realizam sempre em dias variáveis, como a Semana Santa, a Quarta- feira de Cinzas e a Ascensão de Cristo. E qual o motivo pelo qual as comemorações cristãs se dão em dias que variam no calendário civil ou solar? O motivo de o Cristianismo seguir o calendário lunar ou litúrgico é o costume antigo de marcar o ano pelos ciclos da lua. E como a lua realiza seu ciclo em torno da terra em 28 dias e não em 30 ou 3l, conforme os meses do calendário solar ou civil, é claro que o ano litúrgico não coincide com o calendário solar. Todavia ficam duas dúvidas, depois de sabermos que o Cristianismo tem seu calendário próprio e um ano litúrgico diferente do ano solar: por que o Carnaval se dá também em dias variáveis e não em dia fixo do ano e também por que o Natal se comemora em um dia fixo e não variável, uma vez que se trata de festa cristã e tipicamente litúrgica?
     O dia 25 de dezembro foi escolhido pela Igreja Católica ainda nos primórdios do Cristianismo, com o intuito de levar os recentes cristãos do Império Romano ao abandono mais rápido das práticas ligadas às religiões politeistas da antiguidade. E como o dia 25 de dezembro era consagrado ao Deus Sol, uma das maiores divindades antigas, a Igreja houve por bem consagrar aquele importante dia ao nascimento de Deus, fazendo dois proveitos ao mesmo tempo: homenagear o Menino Deus e afastar os cristãos do antigo culto divino ao Sol.
     Quanto ao Carnaval, a explicação é muito simples. Ele é comemorado dentro do ano litúrgico, porque era uma  festa cristã, celebrada imediatamente antes da Quaresma, como despedida da carne, que não se comia nos quarenta dias que antecediam a comemoração da Paixão e Morte de Cristo. O próprio nome carnaval vem das palavras latinas "caro vale", que significam "adeus carne". Só que, com o correr dos tempos, o espírito cristão sumiu do Carnaval e ele se tornou uma festa inteiramente profana.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Falar mal de Prefeitos

     Parece ser mania ou costume ou mesmo lazer o falatório generalizado em quase todos os municípios brasileiros, com críticas ferrenhas aos encarregados oficialmente da administração pública. Aqui me lembro daquele trechinho de uma inspirada música de Raul Seixas: "Mamãe, não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito. Alguém pode querer me assassinar..." Em Capitólio acontece o mesmo, pois não somos um município diferente de todos os demais. Fui levado a escrever isto aqui, movido pelas grandes necessidades urgentes que nossa cidade vai exigir do futuro eleito. A começar pelo abandono inexplicado das obras de tratamento do esgoto, que, além de deixar tudo paralizado, ainda deixou problemas nas ruas da cidade. E o calçamento das ruas, a entrada da cidade, o cuidado da prainha, o desassoreamento do Rio Piumhi, o estado lamentável das estradas rurais? O prefeito vai ter que rebolar, como diz o ditado popular. Só que a função dos munícipes e cidadãos não é reclamar, criticar negativamente  e "meter o pau". Nossa função, agora que vai começar uma nova administração, é apoiar, colaborar, fazer nossa parte e criticar positivamente. Com novos  prefeitos eleitos, geralmente são grandes as esperanças e expectativas de todo cidadão. Entretanto nenhuma administração caminha bem, se não for obra de todos, do prefeito, dos vereadores e dos habitantes da comuna. Se em todos os municípios do Brasil for este o modo de agir, sem dúvida nenhuma nosso país vai progredir rapidamente.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sobre Apelidos

     Existem muitos tipos de apelidos. Alguns são deprimentes e humilham aqueles que os recebem. Outros são carinhosos e contentam seus portadores. Outros são neutros, simplesmente servem para identificar uma pessoa. Existem pessoas  que são especialistas em inventar apelidos chocantes e desagradáveis, que infelizmente pegam com facilidade. Eu mesmo cheguei a colocar alguns apelidos que pegaram em colegas meus de escola e de seminário, dos quais,aliás, me penitencio. Minha mãe era mestra em por apelidos que realmente caíam como luva nas pessoas. Em nossa casa, todos nós tínhamos apelidos dados por ela: Boi Branco, Cavalo Pombo, Goiaba Branca, Macaco, Gambá Russo,Boi Sonso, Mamão Macho e outros mais. Eu gostaria de me referir aos apelidos que tive até hoje, dos quais o primeiro dado por minha mãe, foi o de Boi Sonso. Eu nunca criei caso por causa dele. Sempre atendia pelo mesmo, com a maior naturalidade. Devo tê-lo recebido por causa de minha calma ou moleza em atender aos chamados e em realizar as tarefas a mim confiadas. Até hoje alguns irmãos ainda me chamam desta maneira, o que acho muito familiar e até carinhos. Por algum tempo, devido ao fato de ter ferido a cabeça da Ana da Cuíca com uma certeira pedrada, minhas irmãs começaram a chamar-me de Pedroso, o que eu achava muito desagradável. Entretanto o tal apelido durou pouco, talvez pelo fato de eu ter adotado a prática de pouco me incomodar com ele. Em Tapiraí a garotinha Sandra, que muito pageei, apelidou-me de Tutu, que achei algo muito bonitinho e carinhoso. Em Capitólio peguei para sempre o apelido de Pê, inventado pelos sobrinhos que sempre vinham visitar-me. O apelido pegou porque eles me chamavam de Pê João, em vez de Padre Silva, como era o costume. Depois restou só o Pê, que acho interessante e prático. Para dizer uma verdade, prefiro Pê a João, talvez por guardar no inconsciente o que sempre diziam para mim, na infância: "Todo João é bobo". Tudo isto sem falar no nome pelo qual me chamam os amigos de Tapiraí, de Lutécia, de Bambui e de outros lugares onde trabalhei. Refiro-me a "Padre Silva", que soa a meus ouvidos como verdadeira melodia.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Lembranças do Rancho da Zita

     Revendo o Rancho da Zita, construído por minha irmã, de acordo com planta planejada por mim, não pude deixar de relembrar, saudoso, um passado cheio de boas recordações. Durante cerca de 18 anos nossa vida e a de nossos filhos transcorreu em função do rancho. Todo final de semana era sagrado para nós. Depois de minha última aula de sexta-feira, entrávamos no fusquinha, depois no corcel, rumo a nosso paraíso da Ilha. Ali a curtição era total, até ao cair do sol de domingo. Nadávamos, jogávamos buraco, tocávamos e cantávamos, sem falar nos quitutes caprichados. Para mim era um verdadeiro descanso das aulas e a recuperação de novas energias para o trabalho em minha escola. A infância e a adolescência de nossos filhos se moldou no ambiente sadio daquele ranch bonito e acolhedor. O rancho foi vendido mas construímos outro bem mais amplo e tão querido quanto o da Zita. As belas lembranças, porém, vão permanecer para sempre.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

História Verdadeira de um Procurador

     Aconteceu, de verdade, em Lutécia, pequena cidade do interior de São Paulo, onde eu exercia, nos fins de semana, a função de pároco provisório. Em um domingo, ao se aproximar o momento dos batizados, pelas dez da manhã, observei um falatório inusitado, com certa exaltação dos ânimos, no local da realização dos batizados. Logo me colocaram ao par do furdúncio, ocasionado pelo sumiço do padrinho nas ruas da pequena cidade. Para os familiares ali reunidos, não poderia haver batismo válido sem a presença do padrinho e da madrinha. Embora padre muito novo, com meus vinte e seis anos apenas, coloquei em prática meus conhecimentos de direito canônico e civil, tentando acalmar os ânimos. Com toda calma eu pedi tranquilidade a todos, asseverando que o caso não era motivo de desgaste e que o batismo poderia ser realizado com toda validade, apesar da ausência do padrinho escolhido. Bastava que se colocasse um procurador representando o dito cujo. Mas o padrinho continuaria sendo o escolhido, embora ausente da cerimônia. Quando perguntei pelo escolhido para procurador, um dos presentes replicou logo que um procurador já fora enviado para percorrer todas as ruas, para "procurar" o padrinho desaparecido. É claro que minha vontade foi de soltar tremenda gargalhada mas permaneci sério, compreensivo, calmo e à espera de que chegassem à igreja o padrinho e seu "procurador".
     Este foi um dos casos verdadeiros que aconteceram em meus anos de ministério eclesiástico. Dele nunca me esqueci e quando, depois de cinquenta anos, voltei a Lutécia, não pude deixar de lembrar-me do acontecido, ao adentrar a bela igreja que tantas recordações bonitas me deixou.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma Lição Política

     Minha maior decepção na vida foi provocada pela terrível derrapada do Partido dos Trabalhadores, culminada com o escândalo do mensalão, cuja existência e julgamento são conhecidos de todos. Eu fui peça fundamental na fundação do partido em Capitólio, tendo sido o primeiro presidente efetivo e, por duas vezes, candidato a vereador (derrotado)
     O PT se tornou, graças a sua ideologia e a seus princípios  profundamente éticos, o símbolo máximo da justiça, da honradez e da busca de um caminho humano e cristão para um Brasil sofrido e desiludido. Chegado ao poder depois de muita luta, a cúpula da agremiação foi rapidamente corroída pelo verme do poder político e econômico, deixando-se contaminar pelas mazelas da maioria dos partidos existentes, resolvendo perpetuar-se no poder e abraçar o maquiavelismo, cujo lema diz que "os fins justificam os meios", ou melhor, que tudo é permitido, quando se quer alcançar a meta desejada. Daí para a compra de deputados, no intuito de aprovar os projetos do Presidente, o passo foi pequeno. E deu no que deu. E  a consequência aí está, com a condenação exemplar de líderes que eram considerados verdadeiros mártires do golpe militar de 1964.
     Ainda bem que, a meu ver, a cabeça do partido apodreceu mas os membros mais humildes, as agremiações petistas dos pequenos rincões, permaneceu fiel aos ideais e ao espírito original, como acontece em Capitólio,onde, unido ainda ao PSDB, ao PTB e ao PP, o PT liderou uma coligação exemplar, que fez uma bela campanha limpa e transparente, quem sabe servindo de modelo a ser seguido pela cúpula, no rumo do reconhecimento de seus graves erros e na ressurreição das cinzas em que tristemente mergulhou?

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Estigma que Carrego

     Com todo o respeito aos estigmas de São Francisco, eu costumo dizer que carrego, no joelho direito, não nas mãos e nos pés, um estigma muito mais humilde e infinitamente inferior aos estigmas do grande pobrezinho de Assis. Conta a história da Igreja que o santo da ecologia recebeu, misteriosamente, nas mãos e nos pés, verdadeiras réplicas das chagas de Jesu na Cruz. Mal comparando, tenho a pretensão de dizer que também adquiri um higroma, no joelho, durante meus dois anos de noviciado, na Congregação da Missão. Para quem não sabe, higroma é uma protuberância que se forma no joelho, ocasionada por  certo líquido, tomando a forma de grande caroço que pode doer e inflamar-se, sobretudo quando se ajoelha. Pois bem. Eu, em meu grande desejo de me tornar santo, conforme a finalidade específica dos dois anos de aprofundamento religioso, entreguei-me totalmente à tarefa, rezando e me ajoelhando com frequência demasiada. A oração era considerada o caminho mais rápido e eficiente para a santidade requerida de um sacerdote de São Vicente de Paulo. O certo é que, de tanto rezar, tive que ser operado em um hospital da cidade de Petrópolis. O tempo passou, a ferida sarou, mas os treze pontos da cicatriz permaneceram, deixando para sempre um sinal nada agradável de se ver. Como, porém, aprendi no mesmo seminário a fazer uma limonada do limão que me dessem, resolvi enxergar, na minha cicatriz, um estigma deixado pela Providência, para sempre me lembrar que o que santifica, o que aproxima de Deus uma criatura não são as orações, os sacrifícios, os ritos e as cerimônias, mas antes e somente o amor ao  próximo e a Deus. Em verdade, bem mais tarde, entendi que eu comecei a progredir como cristão foi quando comecei a jogar-me nos braços das comunidades a que servi e quando entendi que a única mensagem de  Jesus para quem deseja seguí-lo consiste em amar a todos como irmãos, repartindo com eles o que temos.

sábado, 15 de setembro de 2012

Fé Viva e Fé Morta

Fé cristã, no sentindo profundo e autêntico da palavra, quer dizer que uma pessoa acredita que Jesus é Deus e pratica a mensagem que ele veio trazer à terra. Ora, a mensagem de Cristo, como ele mesmo disse mais de uma vez, nada mais é do que amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Só isto e mais nada. Muito simples e tão esquecido e não praticado. E o pior de tudo é que as igrejas que se dizem cristãs, de maneira geral, transformaram tão bela e simples mensagem em pura religiosidade, cheia de ritos, cerimônias, rezas, sacrifícios, procissões e outras coisa mais, de somenos importância. É claro que a religiosidade tem seu valor, enquanto colabora para o maior amor a o próximo. Sem a prática do amor a Deus, a si mesmo e ao próximo, religião ou religiosidade não passam da chamada fé morta, apenas aparente e ignorante da mensagem de Jesus, que falou mais do que claramente: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". Seria necessária mais clareza? Está tudo aí. Não importa sua religião, seu credo, seu modo de pensar. Se você ama a seu próximo como a si mesmo, se pratica o amor de verdade e na prática, com o suor de seu rosto e com a força de seus braços, então você é discípulo de Cristo. O resto é secundário.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

38 anos de espera valeram a pena

                      Em 1974 eu trabalhava como fotógrafo profissional em Capitólio, quando uma senhora me pediu para fazer o álbum fotográfico do casamento de um casal de Passos, que viera realizar seu enlace na igreja da cidade. Prontifiquei-me logo, tirei as fotos, fiz o álbum e fiquei à espera de que viessem reclamar meu caprichoso trabalho. Passaram-se muitos dias, nada. Passaram-se anos, nada. Entretanto eu usei o álbum, sem as fotos, para outro casamento, mas tive o cuidado de guardar as fotografias. Outro fotógrafo certamente jogaria tudo no lixo. Eu, porém, tinha a esperança de que, algum dia, os interessados iriam procurar sua encomenda. Cerca de um ano atrás, resolvi fazer um verdadeiro trabalho de sindicância, tentando descobrir o paradeiro dos nubentes, na esperança de que desse o necessário rumo às fotos. Depois de muitas peripécias, consegui descobrir que a noiva de então era filha de um antigo motorista de ônibus, natural de Capitólio. Viera casar-se em Capitólio, pelo fato de não ter feito o curso de noivos, exigido em sua paróquia de Passos.
     Pois é. No dia 22 de agosto passado, depois de ter realizado várias obrigações na cidade de Passos, dirigi-me á residência dos interessados, sem que os mesmos soubessem do motivo de minha visita. Eu mesmo estava cauteloso, pois não imaginava qual seria a reação do casal. Se, por exemplo, estivessem separados ou insatisfeitos com o casório, certamente recusariam as fotos e poderiam até me despedir com cara de tacho. Apresentei-me como um curioso locutor à procura de assunto para uma reportagem. Pedi  à   simpática senhora que me mostrasse as fotos de seu casamento. Ela se lamentou, pois não as encomendara, pelo fato de seu pai não ter tido condições financeiras para adquirir o álbum. Foi então que, depois de muito suspense, mostrei-lhe as antigas fotos, ainda muito nítidas e caprichadas, sem manchas nem amarelidão. O casal caiu das núvens, agradeceu-me muito e não sabia como manifestar sua gratidão. O marido interrogou-me sobre o preço a pagar. Então eu lhe respondi, com sinceridade, que o álbum já estava muitas vezes pago, graças à alegria e felicidade que eu lhes tinha proporcionado naquele instante. Realmente valera a pena  esperar 38 anos para dar  alguns momentos de felicidade a um casal trabalhador e digno.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Padre Pescador

                  Quando cheguei a Capitólio, já estava convencido de que não tinha cabimento um padre de cidade do interior viver às custas do suor  e do trabalho dos paroquianos. Em Tapiraí, de onde acabava de vir, eu era funcionário da Prefeitura, onde trabalhava normalmente como oficial de gabinete do prefeito e recebia pouquinho mais do que um salário mínimo,  o que dava para alugar uma casa em parceria com um velho amigo do lugar, bem como para fazer minhas despesas de comida e de roupas.
     Chegado à nova paróquia, depois de um estudo sobre a situação local e sobre o modo de trabalho das pessoas mais comuns, cheguei à conclusão de que o mais fácil e prático para mim seria tirar minha carteira de pescador profissional e abraçar um serviço honesto, adaptado à realidade local e capaz de me manter e me deixar ainda o tempo necessário ao serviço estritamente paroquial. E foi assim que me mandei para a longínqua cidade de Pirapora, tendo como motorista o conhecido e prestimoso Toninho Abobra. Voltei satisfeito, trazendo no bolso a carteira de pescador e fazendo castelos para minha vida de padre pescador.
     O imprevisto, porém, logo aconteceu. Poucos dias depois, recebi recado de um advogado de Piumhi, chamando-me a sua presença. E qual não foi minha surpresa e decepção quando o mesmo, a pedido de um pescador da região, chamou minha atenção para o fato de eu, um padre que ganhava bem e tinha recursos para uma vida confortável, querer abraçar uma profissão que era o ganha pão de outros pobres pescadores. Não argumentei e saí triste, quase indignado com o fato de um advogado se arvorar em dar opinião sobre minha vida, sem conhecer meu modo de viver e trabalhar, sem dar notícia de que eu preferia ganhar o pão com o suor de meu rosto e não às custas de meus paroquianos. Preferi desistir a brigar, entender as razões do delator e do causídico a entrar em polêmicas desnecessárias. Voltei triste mas não revoltado e parti para outra. Talvez até tenha sido tudo muito providencial, pois caminhei para o lado do magistério, tornando-me professor e diretor do pobre e humilde Colégio João XXIII, de onde comecei a tirar meu sustento e a alimentar mais ainda as mentes dos alunos da cidade.
     Quanto aos causadores de minha decepção, estão hoje na eternidade, certamente felizes ao lado do Senhor e até torcendo pelo êxito de meu desejo de sempre trabalhar pelo bem do proximo mais necessitado do que eu. Que Deus os tenha e a mim me dê forças.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cristianismo Autêntico

     Cerca de cem anos antes da realização do Concílio Vaticano II, sob a presidência do grande e santo papa João XXIII, Frederico Ozanam, o jovem francês e fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, já exclamava, com todas as letras: "Eu não sei amar a Deus de outra forma, a não ser servindo aos mais pobres".
     Pois bem, em uma das famosas reuniões ou sessões do grande concílio, realizado há sessenta anos atrás, um famoso cardeal da Igreja se levantou no meio de grandes prelados, após muitas discussões sobre a forma de existir da verdadeira igreja de Cristo no  mundo atual. Para espanto geral,  o carderal se admirou de tantas elucubrações sobre tema tão simples quanto importante e, na maior singeleza,
 exclamou mais ou menos o seguinte: "Estamos perdendo nosso tempo, sem percebermos que a prática do mais autêntico cristianismo está diante de nós há muito tempo, sem que o tenhamos percebido. A igreja verdadeira de Cristo se chama Sociedade de São Vicente de Paulo e e compõe de homens simples e desapegados, que se dedicam ao próximo mais necessitado, no cumprimento fiel da mensagem de Cristo: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros".
     Interessante é que meu antigo bispo diocesano de Luz, o grande Dom Belchior, ligou de imediato para um dos líderes dos vicentinos da cidade de Piumhi, comunicando-lhe, cheio de emoção, o acontecido dentro dos muros do famoso Vaticano. Pena é que a lição não tenha sido até hoje bem aprendida pelas diversas igrejas que se dizem cristãs mas não se lembram bem da única mensagem que Jesus veio trazer a este mundo.

domingo, 15 de julho de 2012

Tragédia de Jorginho na novela "Avenida Brasil" aconteceu conosco

     Assistindo ontem ao capítulo da novela, em que Jorginho se perdeu no Pico do Açu, aonde foram procurá-lo a namorada e um colega, lembrei-me, de imediato, de um fato muito semelhante, sucedido no mesmo local, precisamente no ano de 1956, se não me falha a memória.
     Eu era estudante no Seminário São Vicente de Paulo, em Petrópolis. Sob a chefia do Pe. Almeida, nosso prefeito de estudos, formamos um grupo de uns vinte ou mais estudantes e nos mandamos, a´pé, para o Pico do Açu, distante uns vinte e poucos quilômetros do seminário. Depois de deixarmos a rodovia, subimos uns quinze quilômetros, ou pouco menos, floresta acima, em trilho estreito e pouco frequentado. Chegados ao famoso pico, tratamos logo de comer alguma coisa de nossa matula e cuidamos de procurar capim, para fazermos nossas camas, onde passaríamos a noite inteira, debaixo da imensa rocha arredondada. Foi uma noite tremendamente fria, em que não dormimos quase nada, sobretudo devido ao choro ininterrupto de um companheiro, atacado por forte dor de dentes.  O dia  seguinte foi de conversas e programas improvisados, até ao momento de voltarmos, lá pelas duas ou três horas da tarde. Tudo correu normalmente, até que chegamos ao fim da floresta, já perto da rodovia, que devíamos ainda vencer a pé, até à chegada ao seminário. Mas qual não foi nossa surpresa, aoa vermos que faltavam quatro companheiros que nunca apareciam. Então o Pe. Almeida escolheu dois de nós, a fim de subirem novamente a floresta e procurarem os colegas desaparecidos. O Tarcísio Ferreira e eu fomos os escolhidos para a espinhosa missão. Lembro-me de que minha escolha se deveu ao fato de meu assobio ter sido o mais forte e estridente de todos. E lá fomos nós, subindo novamente uns cinco quilômetros, floresta adentro, gritando e assobiando de vez em quando e escutando, em silêncio, alguma possível resposta dos amigos. Somente depois de chegarmos ao cume da serra, escutamos, muito longe, uns gritos dolorosos, lá no fundo da montanha, nos rumos do município de Terezópolis. Com o coração partido mas aliviados, continuamos a gritar e a marcar o local de nossa presença, enquanto os quatro sumidos subiam uma tremenda montanha, tendo gastado talvez mais de uma hora de subida. Ao chegarem perto de nós, estavam amarrotados, tristes, arrastando-se penosamente. E começamos novamente a descida da serra e da floresta, já com a noite a cair, munidos apenas de uma lanterna, levada pelo companheiro da frente, a nos anunciar cada buraco ou tropeço que surgia no caminho. Noite escura mata adentro, até chegarmos à planície, onde batemos a uma porta amiga que nos recebeu, já depois da meia noite. Então ligamos para o seminário e pedimos que nos fosse buscar a caminhonete da casa, dirigida pelo prestimoso Irmão Melo. Finalmente chegamos ao lar lá por uma hora e meia da manhã, para alívio de toda a comunidade que, certamente, fora dormir ansiosa, pedindo a Deus pro nossa segurança e pelo feliz encontro dos quatro desaparecidos. Foi uma novela da vida real.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ateus e Ateus

     Em meu modo de entender, que penso ser o mais correto, nem todos aqueles  que se dizem ateus são ateus. Segundo a etimologia da palavra, ateu significa aquela pessoa que não acredita na existência de um Deus, ou melhor, de um ser primeiro, supremo, origem do universo. É ainda costume considerar ateus aqueles que acreditam na ciência, que se aprofundam na filosofia pura, que se imiscuem nos mistérios profundos da natureza. Eu penso o contrário. Estou convicto de que, quanto mais os sábios e estudiosos se aprofundam no saber, mais se deparam com a necessidade de um  princípio supremo e inteligente, de uma causa primeira, de um primeiro motor. Sem dúvida alguma dão de cara com  o Criador. E isto é ser ateu? E por que os chamamos de ateus ou até eles mesmos se dizem ateus? Para mim está tudo muito claro. Os que chamamos de ateus são de fato ateus, mas ateus daquele deus que aprendemos desde a catequese infantil e que nos acompanhou pela vida afora. São ateus daquele deus justiceiro, vigia permanente de todos os nossos passos, olho terrível a acompanhar nossos mais secretos pensamentos. Desse deus terrível os ateus se julgam distantes e descrentes. Eu mesmo, sem querer a ninguém escandalizar, me considero ateu daquele deus que aprendi e que tanto sofrimento e medo me causou durante grande parte de minha existência. O Deus dos ateus me parece ser o mesmo Deus em que hoje acredito, que é o Deus amor, cuja essência é só amor, em que não há justiça, nem condenações, nem fiscalizações. Nosso Deus é só amor. Nosso Deus é Pai, como Jesus nos ensinou a chamá-lo. É o Deus que, em nosso último momento nesta vida, estará junto de nós, esperando simplesmente o reconhecimento de nossos pecados e fraquezas, a fim de nos perdoar e de nos levar com ele para o Paraíso. Não foi assim com o bom ladrão, que de bom não tinha nada, mas apenas os maiores malefícios, senão não teria sido condenado à pior das penas do império romano. E não foi levado imediatamente ao  Paraíso pelo Cristo, ao manifestar o reconhecimento de seus crimes numerosos? E agora?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Roubaram Nosso Carro

                Dez horas da noite de quarta-feira, dia 6 de junho, primeiro dia da tradicional Festa de São Vicente de Paulo. Neiva e eu saíamos do recinto da festa, mais precisamente do bar, onde trabalhávamos, eu como atendente e a Neiva como pipoqueira. Ela ia para casa, devido ao cansaço da lida do dia, enquanto eu a levaria, voltando depois para o serviço de balcão.
     Quando chegamos ao local onde tínhamos estacionado o carro, cadê. O carro sumira. Em seu lugar descansava outro veículo. A Neiva já foi colocando as mãos na cabeça e amea.çava perder as estribeiras, enquanto eu lhe falava: ou roubaram nosso Fiat ou a Polícia o guinchou.
     Logo o assunto correu, um grupo de curiosos, alguém mandava telefonar para a Polícia, enquanto outros perguntavam se não tínhamos mudado de estacionamento. Eu, lembrado de uma frase que lera ainda no noviciado, aos 17 anos de idade, repeti para mim mesmo: "se lhe derem um limão, faça dele uma limonada". E então, enquanto caminhava lentamente na observaçãodas placas dos veículos, fui ruminando e avaliando as vantagens de ficarmos sem um carro. Primeiro, ele não era essencial para nossa vida e felicidade. Além do mais, não teríamos mais que pagar IPVA, seguro do veículo, pneus novos, gasolina e manutenção. Eu estava transformando o limão em limonada. Aí a Neiva começou a gritar: Olhe ali o carro. Nós o tínhamos mudado de lugar e não o tínhamos lembrado. E lá estava nosso  Fiat, quietinho, conservadinho e inteiramente alheio a nossas preocupações.
     Para dizer a verdade, senti até certa tristeza com o achado, pois já me acostumara ao pequeno desconforto ocasionado pela perda. Inclusive eu já pensava em poder fazer novas viagens ao exterior, graças à economia com a falta do veículo. Enfim, seja o que Deus quiser.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cada Terra com seu Uso

                 Depois de nossa viagem ao Chile e à Argentina, resolvemos, A Neiva, a Paula e eu, comemorar a chegada com um  lauto banquete mineiro no domingo, no apartamento da Paula, na capital paulista. Estivemos em vários hoteis nos dois países visitados, frequentamos restaurantes e cafés de fama, deparamos com comidas sofisticadas e muito apreciadas pelos países vizinhos. Gastamos, a meu ver inutilmente, grande parte de nosso dinheiro com comidas muito diferentes das nossas e muito apreciadas por chilenos e argentinos. Para falar a verdade, eu me aproveitava bastante do café da manhã, muito rico em frutas e quitandas variadas. No resto do dia eu ia quebrando o galho com lambiscos pescados nas refeições do decorrer do dia. Não digo, de maneira alguma, que a comida era ruim. O caso é que, como diz velho ditado, "cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso". Nós brasileiros herdamos a culinária dos indígenas, dos negros e até dos portugueses. E, dentro do Brasil, a comida mineira ainda parece destacar-se mais ainda das dos demais estados. O certo é que já chegamos ao último dia, em Buenos Aires, cheios de saudade e de vontade de nossa comidinha caseira e mineira. Nosso banquete, mais gostoso para nós do que tudo que vimos de sofisticado, constou, nada mais nada menos, do que de cinco pratos cheirosos, quentinhos e saborosos, contendo arroz, feijão, angu, carne moída e variada salada de verduras. Comemos e nos fartamos à bessa, procurando tirar o atraso do jejum, de onze dias, de nosso queridinha comida caseira de nosso dia a dia. Valeu, porém, a experiência, pois aprendi a valorizar ainda mais, a cada refeição diária, a gostosura e o prazer de nossa comidinha mineira. E olhem que eu nem falei do tutu de feijão, que é outra preciosidade de nosso cardápio mineiro. "Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso".

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ao olharmos para a foto da bela igreja do povoado de Macaúbas, em Capitólio, deparamos com algo bastante curioso, que são as duas torres de formato diferente. Uma delas tem os quatro lados iguais, ao passo que a outra tem a parte, aparente na foto, de forma arredondada. E qual a razão de tão curiosa diferença? Pasmem-se todos. A diferença das torres surgiu de uma divergência política, existente entre os membros da comissão de construção da igreja de Macaúbas. Parte da turma era pertencente ao antigo PSD, enquanto a outra fazia parte da velha UDN (Partido Social Democrático e União Democrática Nacional). Uns queriam as torres totalmente arredondadas, enquanto os adversários políticos eram favoráveis a torres "quadradas". Imagino eu que, de comum acordo e de maneira diplomáticamente mineira, todos chegaram à conclusão de fazer duas torres diferentes, cada qual atendendo aos desejos de uma das facções políticas. E assim durgiram duas torres desiguais, todas muito belas, agradando a gregos e troianos, não prejudicando a igreja e a paróquia e se constituindo em grande alegria para os moradores locais. Quem sabe não se possa ver aí um exemplo mineiro para os políticos deste Brasil, que geralmente tudo fazem para destruir o que foi feito pelos adversários e para locupletar seus próprios bolsos, pouco se lixando para o que agrade ou desagrade à população?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Viagem pela Argentina

     Já falei sobre nossa ida ao Chile mas me esqueci de continuar a descrever o passeio por uma parte da América do Sul. Hoje quero lembrar apenas duas coisas muito interessantes que observei em Buenos Aires, capital belíssima, com a avenida mais larga do mundo e com arquitetura extraordinária em todo o centro da cidade. Entretanto, uma coisa que logo notei foi a quantidade de pessoas levando cães pelas coleiras,  às vezes até em quantidade bem grande. Chegamos até a ver uma senhora que, além do bebê em um carrinho, ainda conduzia quatro cachorros, dois de cada lado do carrinho. Então nosso guia matou nossa curiosidade, exsplicando a razão de tanta gente a conduzir cães pela cidade. Trata-se, segundo ele, de um ofício ou função muito comum na capital, que consiste em levar os cães a passear durante três horas por dia, ao preço de 50 dólares por animal. Sendo assim, uma pessoa apenas pode levar até dez cães ou mais por dia, podendo faturar, durante o mês, bem mais de mil reais, em nossa moeda.
    Quanto ao número grande de ciclistas pelas ruas, também fomos informados da solução encontrada pela municipalidade, afim de  minorar o problema do excesso de veículos pelas ruas, atravancando o trânsito. Um dos prefeitos teve a ideia de criar postos de bicicleta espalhados por toda a cidade, além de ciclovias paralelas a ruas e avenidas. Assim, qualquer morador da capital, munido apenas de seu documento de identidade, pode dirigir-se a qualquer posto e pegar, de graça, uma bicicleta, afim de se locomover para qualquer ponto, com a condição de depois devolver o veículo em qualquer outro posto, por mais longe que se encontre do posto de origem. Moradores de outras cidades podem também usar das bicicletas, pagando, porém, uma pequena taxa. Solução criativa e interessante, que me parece estar já sendo imitada em algum ponto de nosso país.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Confraternização e Eucaristia

     Em minhas meditações sobre a última Ceia de Jesus com seus amigos, na chamada Quinta-feira Santa, entrei a pensar na razão de o Mestre ter  escolhido justamente uma ceia ou confraternização, para transmitir seu testamento ou sua mensagem de amor.
     Como a mensagem de Cristo para este mundo era o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, nada melhor do que uma refeição de confraternização. Mas, por que justamente uma refeição, em vez de outro lugar, outra circunstância, outra ocasião? É aqui que entra a conclusão a que cheguei, mercê de minha acurada observação. Sendo Jesus, além de Deus, o mais perfeito e completo ser humano, ele houve por bem escolher também a mais perfeita e mais completa das confraternizações, ao redor de uma mesa de iguarias, o lugar ideal, onde, além da amizade e da fraternidade, se realizam totalmente todos os prazeres humanos dos sentidos. Na realidade, à mesa se curtem o sabor e o aroma dos alimentos bem preparados, se enxergam os parceiros e amigos convidados e queridos, se ouvem e se trocam palavras agradáveis e se tocam os comensais, através dos cumprimentos, dos beijos e abraços. Nada mais perfeito para se expandir o amor humano e para significar e simbolizar a suprema mensagem do amor e da fraternidade.
     De tudo que acabo de dizer surgiu minha talvez estranha conclusão, que parece contrária a um adágio popular muito difundido entre cristãos mas que não me parece abranger toda a profundidade da mensagem evangélica: a família que toma refeições unida, permanece unida. Sobre esta minha afirmativa ainda quero  escrever mais pongamente em outra ocasião.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Virada dos Judeus de Ramos

                    Causa-me espanto a virada repentina dos judeus que organizaram a entrada triunfal de Jesus na cidade santa. Depois de o ovacionarem entusiasticamente no domingo, poucos dias depois, na sexta-feira, os mesmos pediam a condenação de Jesus, forçando Pilatos a o sentenciar à pior das mortes, a crucifixão. Fico imaginando a tristeza e decepção do Cristo, ao contemplar aqueles pobres coitados, por ele curados e saciados no deserto, pedindo com alarde sua condenação. Como explicar tamanha mudança, de uma hora para outra?
     Para falar a verdade, não creio que aquela multidão devesse carregar a culpa por tamanha injustiça e ingratidão. O povo daquele tempo tinha pouca diferença das multidões de hoje. Naquele tempo como hoje, o poder tinha o condão de modelar as consciências e de levar as multidões para onde bem quisessem. Outrora como hoje, o poder econômico, o poder político e o poder religioso eram já os três tentáculos do terrível polvo que só pensa em  dominar, em locupletar-se de dinheiro e em manipular as consciências do povo crédulo e inoscente. O povo não foi culpado, Pilatos não foi culpado. Embora nada entendesse de todo aquele reboliço, Pilatos só sabia que Jesus era inocente, era homem de bem e só pregava o amor a Deus e ao próximo. Tanto é verdade que sua consciência o fez lavar as mãos em público e dizer-se inocente da condenação de Jesus. Quem então fez a multidão mudar de lado e  pedir a condenação do enviado de Deus?  Para ser sincero comigo mesmo, afirmo que acredito no perdão e na salvação eterna dos responsáveis pela condenação de Cristo, mas, para mim, foram os donos do templo, os representantes maiores do Povo de Deus que, levados pela fascinação do poder religioso e temerosos de serem desalojados por Jesus, fizeram verdadeira e rápida lavagem cerebral na multidão. E a multidão, por demais religiosa e temente aos donos do templo e da "verdade", não trepidou em exigir do procurador romano a crucifixão de Jesus.

domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos

     Neste domingo chamado de Ramos se relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Foi realmente triunfal, pois foi realizada por uma grande multidão de judeus que acreditavam que aquele homem era o Messias, embora nunca lhes tivesse passado pela mente a mínima ideia de que ele era o próprio Verbo de Deus. Fico imaginando o entusiasmo daquela multidão, carregando ramos de palmeira e ovacionando quem curara enfermos, dera vista a cegos, ressuscitara mortos e multiplicara pães para milhares de pessoas. Jesus também, por um lado, devia estar satisfeito com a gratidão e reconhecimento de seus conterrâneos, embora, por outro lado, estivesse pensando, com tristeza, na mudança de atitude daqueles mesmos que, na sexta-feira, haveriam de pedir sua morte, depois de trocá-lo pelo pior dos facínoras, chamado Barrabás. Como poderia aquele pobre povo mudar de pensamento, rejeitar o homem que provara ser o Messias prometido, trocá-lo por um terrível assassino e pedir sua condenação ao pior dos suplícios, que era a crucifixão? Isto é o que haveremos de considerar em próxima conversa, que merece grande atenção e muita reflexão.

domingo, 25 de março de 2012

Ainda sobre o Chile

     Sempre nutri grande simpatia pelo Chile. Tive muita pena do povo chileno, por ocasião da terrível ditadura de Pinochet, na mesma ocasião em que passávamos, no Brasil, pelo mesmo tipo de golpe militar. Felizmente o país venceu a ditadura e se tornou uma democracia exemplar para o resto da América Latina. O pouco que falei sobre nossa rápida visita ao país dá para se ter uma pequena idéia de como ali impera o desenvolvimento, a cultura e o espírito democrático.
     Se eu fosse apontar um defeito naquele povo, eu só teria um ponto negativo, que aliás muito me surpreendeu. Quem me falou sobre o assunto foi um chileno muito sincero e eu acreditei em suas palavras, não só pelo  fato de aquela mancha ter sido apontada por um do país, mas ainda pela constatação que eu mesmo fiz, depois de suas considerações. Disse-me aquele senhor que existe no país uma discriminação aos negros e aos homossexuais. Conforme suas palavras, os negros têm grande deficuldade para encontrar empregos e, quando os encontram, são empregos que os mantêm escondidos do público. Se trabalham em um restaurante, por exemplo, são colocados na cozinha, para não marcarem presença.
     Para ser sincero, eu tive vontade de que aquilo não fosse verdade. Fiquei triste por ver tal mancha em um povo que tanto admiro e tanto estimo. Entretanto, comecei a observar e de fato não me lembro de ter visto negros pelas ruas. Aliás, vi apenas um jovem muito negro, de braços dados com uma jovem muito loura. E cheguei  à conclusão de que se tratava, com certeza, de algum estrangeiro a serviço ou de algum turista, quem sabe até brasileiro.
     Interessantíssimo é que, depois da conversa com o chileno, encontrei, em nosso hotel, vários negros muito bem trajados, bem falantes e completamente à vontade e desinibidos. Procurando conversa com um deles, certifiquei-me de que se trava de um grupo de universitários baianos, de Salvador, que estavam fazendo uma viagem de estudos em Santiago. Aquilo pode ter sido um  motivo de grande admiração e, quem sabe, de modelo para nossos queridos irmãos chilenos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Brasil e Chile

     Minha primeira viagem ao exterior foi pautada pela observação e pela comparação entre Brasil e Chile e Brasil e Argentina. Começando pelo Chile, a mais importante constatação que fiz, logo de começo, foi o grande número de turistas brasileiros que visitam o simpático país. Nós constituimos cerca de 80% de todos os estrangeiros que fazem turismo naquele local. Isto foi o que comprovei pessoalmente, encontrando brasileiros a cada momento, no hotel, nos passeios, nas ruas e nos restaurantes.
     Outra realidade notada foi a simpatia e a cordialidade com que fomos tratados pelos chilenos. Ali nos sentíamos em casa.
     Característica de Santiago, capital que comporta quase a metade da população do Chile, é a educação, a calma e o respeito dos motoristas para com os pedestres. A coisa mais comum no trânsito é um motorista parar e convidar as pessoas a atravessarem a rua, mesmo com o sinal aberto para eles e fechado para os pedestres. Como consequência, ausência quase completa de acidentes de trânsito e de atropelamentos.
     Diferença muito grande entre Chile e Brasil é o tratamento dado aos cães sem dono, vagando pelas ruas. Enquanto no Brasil os cães vivem fuçando os lixos na busca de comida e, muito frequentemente, são abandonados pelas municipalidades nas proximidades de cidades vizinhas,  lá o povo alimenta voluntariamente os cães de rua, deixando-os sempre bem nutridos, calmos e até mesmo elegantes. Isto, sem falar que a municipalidade providencia a vacinação de todos eles, embora seu número se eleve a um  milhão, no meio de uma população de oito milhões de habitantes. Naturalmente tal fato se torna um problema para a prefeitura da cidade, que estuda meios de contornar a situação.
    Aqui, porém, não terminam nossas considerações em torno de nossa viagem ao Chile e à Argentina. Voltaremos ainda outras vezes, afim de relatar tanta coisa interessante e útil para aplicarmos no engrandecimento de nossa querida pátria.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Negros libertos podem ter dado origem a Capitólio

     É mais do que sabido que a família Leite da Cunha e a dos Franciscos, vindas das bandas de Ouro Preto, foram as que desbravaram as terras do município de Capitólio e fizeram progredir o arraial primitivo. Entretanto, o  arraial só apareceu no local atual da cidade, depois que um bom grupo de famílias negras aqui se radicou, fugindo do lugar onde moravam. O assunto merece ser estudado a fundo por algum capitolino animado e amante da terra, com tempo para escarafunchar os arquivos de antigos cartórios da região. O que sei foi conseguido através de moradores muito antigos da cidade, que ainda conheceram o chamado Arraial Velho, onde ainda moravam remanescentes dos primeiros negros que por lá apareceram.
     Minha conclusão sobre o assunto, depois de todas as minhas pesquisas e andanças, é que o primitivo arraial Casas de Pedras, também chamado de Arraial dos Papudos, situado a dois ou três quilômetros do centro da cidade, onde hoje se localiza a Cerealista Capitólio, foi o primeiro arraial da redondeza. Era chamado de Casas de Pedras, por causa dos telhados, cobertos de lâminas de pedras, colocadas sem muita simetria. O nome de Arraial dos Papudos provinha do fato de grande parte dos negros serem portadores de bócio ou papo, no linguajar popular. O arraial deve ter-se formado ali pouco depois da abolição da escravatura, por negros libertos, à procura de terra para cultivar e de lugar sossegado para viver em paz. Pode também ter surgido o pequeno arraial de negros fugidos da escravidão, antes mesmo da abolição. Então o dito arraial teria como origem um quilombo, como eram chamados os locais escolhidos pelos negros fugitivos.
     Outra história interessante é o motivo pelo qual os negros do antigo arraial se mudaram para a fazenda do primeiro morador do atual centro da cidade. Certamente portador de bom coração, o fazendeiro  acolheu quem quisesse trabalhar a troco de casa, comida e proteção. Então surgiram muitas casa ao redor da sede da fazenda, logo depois outras mais foram surgindo, construídas pelos filhos e netos do proprietário. A razão do êxodo do povo do Arraial dos Papudos foi um surto de malária que acomemteu a populaçao que, apavorada, tudo abandonou, procurando ajuda e proteção ao fazendeiro mais próximo.
     Curiosa história, que precisa de grande aprofundamento e acurado estudo de gente aplicada e cheia de amor pelat erra natal.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Visita de Mineiros

     Uma das boas coisas da vida antiga, sobretudo do modo simples da vida do mineiro, é o hábito de visitar parentes, amigos e vizinhos. Depois do cair do sol e de lavada a cozinha do jantar, era hora de sair com a meninada, bater na porta de uma pessoa  amiga e começar o papo arrastado e demorado, enquanto a garotada se divirtia na brincadeira de pique  ou de roda. O papo ia longe, só terminando depois de servido o café,como sempre acompanhado de bolo de fubá, de biscoito ou de pão-de-queijo. Belos tempos, quase totalmente destruídos pela televisão, pelas novelas e também pelo computador. Entretanto, não sei se só ou muito pouco acompanhado, resolvi ressuscitar o costume da visita, sobretudo depois que me convenci de que a melhor maneira de servir ao próximo, sobretudo ao próximo carente ou idoso, é uma visita cordial e espontânea. Tomei o costume de fazer pelo menos uma visita por dia, o que me tem feito muito bem à alma e ao bem estar. E resolvi colocar em meu blog tal assunto, depois da original visita que fiz a uma grande amiga nesta semana. Como esteve um tanto adoentada, pediu-me para aguardar seu aviso, no sentido de poder receber dignamente minha visita costumeira. Encontrando-me com ela na rua, combinamos a próxima visita. Então ela me pediu para avisá-la com três horas de antecedência, afim de que pudesse amassar e assar um gostoso pão-de-queijo, a ser comido com o café, ainda quentinho e recém-saído do forno. E a visita foi maravilhosa. Pão-de-queijo à vontade, café bem temperado, vasilha de leite sobre a mesa e conversa a perder de vista, relembrando o passado de Capitólio e os casos engraçados de antanho. Belos tempos!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ritual da Pamonha

                               Dentre as maravilhas da vidinha do interior sobressai, nas Gerais, a "fazeção da pamonha". Como tudo em nossa vida corriqueira se transforma em ritos, realizados com sagrada pontualidade, a feitura das tradicionais pamonhas ocupa lugar de destaque na verdadeira liturgia, própria do tempo das chuvas. Tudo começa pela busca do milho, colhido na roça e escolhido a dedo, devendo estar no ponto exato. Colhidas as espigas, é dado aos parentes, aos vizinhos ou aos amigos costumeiros o sinal da reunião. Bacias, fogão, tachos e facões são preparados e distribuídos entre os presentes, de acordo com as habilidades de cada um dos componentes do grupo. Uns picam a base das espigas, outros descascam as mesmas e tiram caprichosamente os cabelos, enquanto outros ralam as espigas. A massa levemente amarelada é passada na peneira de taquara, depois temperada com açúcar, canela, queijo ralado, leite, ovos e manteiga. Chega então a hora mais importante da informação das pamonhas, verdadeira obra de arte, que é confiada a poucas pessoas, dotadas de dom especial. Com uma das palhas verdes é feito um copo, onde se coloca a massa cuidadosamente. Para fechar o copo,  outra palha esconde totalmente a massa, tomando posição inversa à primeira palha. Depois de cuidadoso amarrilho, feito também de palha verde, passa-se ao cozimento das pamonhas, que saem do tacho quentinhas, gorduchinhas e amarradas na cintura, à semelhança de rechonchudas bailarinas.
     Ontem fizemos 82 pamonhas, com apenas 72 espigas. Começada logo depois do almoço, a tarefa se estendeu até às sete da noite, com o trabalho de cinco voluntários da família. Degustei imediatamente duas belas pamonhas, na esperança de passar ainda um bom tempo a saborear gostosura tão apreciada em nosso interior. Se vierem a tempo, poderão participar conosco do belo Ritual da Pamonha.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Valor dos Botecos

                     Precisei ler um artigo do grande teólogo Leonardo Boff, hoje padre casado. Ali ele mostra, magistralmente, o valor e a importância dos botecos, hoje tão comuns quanto despercebidos em seu profundo valor social, cultural e político.
     Interessante e curioso é que Belo Horizonte, a bela capital mineira, é conhecida como a cidade brasileira que abriga a maior quantidade de botecos. Para meu conhecido Leonardo Boff os botecos possuem um papel social muito importante, pelo fato de terem o condão de unir os moradores dos bairros em que se localizam. É nos botecos que as pessoas se encontram mais, discutem seus problemas e procuram soluções e até choram suas mágoas. No boteco se marcam os encontros e se formam as rodas de conversas fiadas e de assuntos do mais alto interesse da sociedade. Não bastasse tudo isto, os botecos são os espaços mais democráticos que se conhecem. Nele se colocam lado a lado professores universitários e pinguços, advogados e peões de obras, médicos e mendigos, sem distinção de classe, de cor, de posição social ou de situação econômica. Nos botecos se formam as rodas de tocadores e os grupos de cantoria, ao lado de artistas e boêmios. No boteco todos são iguais. Cada um pede o que quer, fala o que mais lhe agrada, escuta tudo sem recriminar. Complementando, a meu modo, tomo a liberdade e a ousadia de dizer que o boteco, pelas qualidades acima enumeradas, nada mais é do que um lugar de igualdade e de fraternidade, onde o ódio e a maldade não encontram assento, onde, portanto, impera o amor de amigos. E onde dois ou mais se reunem pela fraternidade e pela igualdade, Deus só pode estar no mei deles.
  

sábado, 14 de janeiro de 2012

Valor da Leitura

     Assisti hoje a uma entrevista, na televisão, com a grande escritora Marina Colassanti. Entre as muitas coisas interessantes que falou, a mais importante, para mim, foi a afirmação de que se aprende muito mais, ou pelo menos ela aprendeu muito mais, em sua vida, com a leitura do que com o ensino convencional. De minha parte, refletindo em suas palavras, não me faltou sequer um segundo, para que percebesse que, em minha vida, eu também aprendi muito mais através da leitura de diversos livros com diferentes assuntos e com os mais variados estilos. Em meu noviciado lazarista, por exemplo, nunca me esqueço da leitura do livro "Como Evitar Preocupações", escrito pelo pastor protestante Dayle Carneggi e a mim recomendado pelo diretor espiritual, o saudoso Padre Saraivão. Dali eu guardei para toda a minha vida a frase: "Se lhe derem um limão, faça dele uma limonada". Foi assim que aprendi a evitar o famoso estresse, geralmente provocado pelas famigeradas preocupações.
     Para meu amadurecimento interior e espiritual, sem dúvida alguma foram leituras de grandes figuras da literatura e do cristianismo que me levaram ao nível físico e mental e aos princípios e convicções que hoje norteiam minha vida. Entre todos os livros que me  fizeram progredir, dou ênfase especial ao mundialmente conhecido "A Cabana". Embora me pareça um livro de ficção, o autor se mostra um grande teólogo, não somente ao tratar do sofrimento nesta vida mas especialmente quando mostra uma visão de Deus extraordinária e consoladora, muito mais real e sublime do que tudo o que aprendi nos livros de teologia. Tanto bem me fez tal leitura, que o conservo sempre em minha parca biblioteca, ao lados dos santos evangelhos, e até o considero como o quinto evangelho.