sexta-feira, 22 de maio de 2009

Epopeia de um Rancho (II)

Desta vez foram mais dois peões, Antônio Braz e Miltinho, que trabalharam no serviço das valetas, enquanto meu filho Gustavo começava a montar o gabarito das bases .

Depois de breve intervalo para o Réveillon, passado na Ilha, Gustavo corrigiu um erro no gabarito, enquanto Miltinho furava valetas.
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24 DE DEZEMBRO DE 2005

Depois do almoço o Gustavo,
Rute, Ester, eu mais o Lucas,
Para a Ilha nos mandamos,
Preparando nossas cucas.

O trabalho era dureza,
Exigindo pensamento.
Sem falar no calorão,
Sem esperança de vento.

A tarefa mais pesada,
Ao fazer o gabarito,
Foi fincar várias estacas
Naquele chão de granito.




O pior foi que, depois
De a tarefa terminada,
Não encontramos sequer
Um copo d’água gelada.

Já de noite regressou
Toda moída a cambada,
Mesmo assim, para o Natal,
Tinha que estar preparada.

26 DE DEZEMBRO DE 2005

Foi necessário voltar
Neste dia ao gabarito,
Pois um engano deixara
O Gustavo muito aflito.

P’ra começar as valetas,
Com decidida intenção,
Pelas sete da manhã
Partimos com prontidão.

Gustavo, eu e Miltinho
Formamos uma trindade.
Em toda prosa o Miltinho
Retrucava: “E é verdade.”

Furando que nem Tatu,
Miltinho valas abriu.
Gustavo, no gabarito,
Suava na esquadria.





Neiva e Paula, com Ester,
Mais a Rute sempre prosa,
Vão a tempo de fazer
Comidinha bem gostosa.

Gustavo e eu começamos
A dar um novo recado,
Levando terra ao lugar
De nível mais elevado.

De volta, no mesmo dia,
Com Miltinho combinamos.
P’ra terminar as valetas,
Duzentos paus lhe pagamos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Império de Cada Um

Frequentemente encontramos, pelas veredas da vida, pessoas diversas, sobretudo casais, que começaram do nada , lutaram por um lugarzinho ao sol, fizeram economia, construiram sua morada, estabeleceram seu "modus vivendi" e acabaram formando seus filhos, alcançando, na sociedade, seu merecido lugar.
Isto é o que acontece com os idealistas, com as pessoas de fé, de fé em Deus e nos homens. Costumo chamar, tal conjunto de vitórias, de império de cada um. A tal império seus senhores se apegam , defendendo-o com unhas e dentes, dele se orgulhando talvez até muito mais do que os grandes senhores da Terra.
São estes pequenos impérios que constroem o mundo, que criam sociedades estáveis e que deveriam ser resguardados e até venerados como relíquias e como pilares da História. Só que são com frequência desmontados, assim que seus fundadores se vão. Tais impérios ruem por ambição, por desavenças e ganância de herdeiros ou pela exploração imobiliária, quando não pelo descaso do poder público.
Quando toco neste tema, à mente me vem o casarão de Bonfim, o sobrado mais antigo de então, plantado bem no centro da cidade, como símbolo de minha cidade natal. Um dia, porém, ruiu o império de meus pais, orgulho de seus ideais, sacramento altaneiro de dois forasteiros, chegados em carro-de-bois e alçados à glória de seu querido palácio.
Por tudo isto é que dou tanta importância a minha família e a minha casa, como também a nosso rancho, cuja construção representa a união e a força de nosso pequeno império.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Epopeia de um Rancho (I)

Neste primeiro dia da aventura da construção de nosso sonhado rancho, Lucas, eu e o peão Osvaldo Lica partimos para a limpeza do local, coberto por tremendo matagal. O lugar do futuro rancho é a Ilha do Funil, lugar lindo, às margens da represa de Furnas, a treze quilômetros de Capitólio.
Como os esquecimentos nunca faltam, ficou em casa a carne moída do almoço, o que não constituiu problema para o Tio Dolor, que improvisou gosotoso molho de ovos em substituição.
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21 DE DEZEMBRO DE 2005

De Capitólio partimos
Eu, Lucas e um companheiro,
Perseguindo um ideal
E não sonho passageiro.

Osvaldo era o companheiro.
Se quer saber, dou a dica.
Era um dos vários filhos
Do saudoso Antônio Lica.

A limpeza do terreno
Iríamos começar.
Ali surgiria um rancho,
O nosso segundo lar.

Ti Dolor deu grande ajuda,
Fazendo farta comida.
Nem sentimos que, em casa,
Deixei a carne moída.

Mestre Cuca, experiente
Em criar manjares novos,
O tio, em lugar da carne,
Fez belo molho de ovos.

Nossa tarefa acabou,
Nem bem terminava o dia.
Logo, como bom patrão,
O pagamento eu fazia.

Vinte e cinco foi o preço
Pelo Osvaldo a mim cobrado
Mas dei-lhe quarenta e um,
Que julguei mais adequado.



Durante aquele serviço,
Tadeu Rodrigues chegou,
Com areia e a madeira
Que o gabarito marcou.

Já no dia anterior
O mesmo caminhoneiro
Fez um carreto de brita,
Dois, sete, cinco a dinheiro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Epopeia de um Rancho

Grandes poetas escreveram grandes epopeias. Camões escreveu Os Luzíadas, Homero compôs a Ilíada, Virgílio escreveu a Eneida. Existem, porém,outras epopeias, muitas vezes até para nós insignificantes, mas que, para seus autores, são grandes epopeias, dependendo do amor e da importância que lhes dão.
Nosso rancho da Ilha, no município de Capitólio, é uma dessas epopeias. Uma epopeia caseira, como diria nosso grande Tio Dolor, o mesmo criador dos já comentados "picuíbas". É uma epopeia caseira, quer dizer, simples, singela, despretensiosa. Para nós, todavia, é uma grande epopeia, que mereceria, a nossos olhos, ser cantada por um Camões, por Homero ou por Virgílio. Como estes já se foram, sobro eu para cantar, em minha versalhada, toda aquela aventura de nos metermos a construir um sonho nosso, colocando a mão na massa e levando dois anos de expectativas, até chegarmos à conclusão de nossa almejada obra.
Assim, resolvi mostrar para quem tiver paciência de me tolerar, a história de uma obra que não é pura ficção, como foram as epopeias, mas a expressão mais pura de uma verdade que, de puro sonho, se tornou realidade. Como remédio se dá às colheradas, vou servir meu repasto a conta-gotas, para não causar-lhes desarranjos.
E até ao próximo encontro.