segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Carnaval

Poucas pessoas sabem que o Carnaval tem origem cristã.Etimologicamente a palavra carnaval vem de "caro", palavra latina que significa carne, e de "vale", que quer dizer adeus. "Caro, vale!" então queria dizer: Adeus, carne. Como, durante toda a quaresma, os cristãos primitivos se abstinham inteiramente de carne, então introduziram o costume de, antes da quarta-feira de cinzas,dar uma despedida festiva ao uso da carne, divertindo-se sadia e alegremente.
Com o correr dos tempos tudo mudou completamente. Hoje o carnaval parece ter perdido todo o seu sentido original, tendo-se transformado quase em verdadeira bacanal, onde tudo é permitido, a libertinagem anda solta, a droga e a bebida campeiam. Em alguns poucos lugares, como em minha terra Bonfim, sobra ainda um bom espaço de tempo para o tradicional carnaval a cavalo e para o divertido Zé Pereira. Hoje em dia o carnaval não passa de mera continuação da ruidosa poluição sonora que invade todos os ambientes. Ruído substituiu o som e mau gosta tomou o lugar da música. Gosto muito de Caitólio mas prefiro, neste carnaval, curtir minha nova netinha em BH e rever o belo carnaval a cavalo de Bonfim. Vou curtir, em vez de vegetar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobre e-mails

Cerca de dois anos para cá, resolvi dar uma guinada em meus hábitos e aderir ao uso do computador. Acabei me convencendo de que hoje, quem não adere ao mundo virtual acaba por se tornar verdadeiro analfabeto. Eu já estava cansado de ouvir amigos e conhecidos a pedirem meu e-mail, sem que eu ao menos tivesse idéia do que poderia significar tão estranha palavra. Enfim aderi e não me arrependo. As vantagens são imensas. Estou sempre ao par dos últimos acontecimentos, converso a qualquer hora com os amigos, faço negócios e jogo buraco o dia inteiro. O maior incinveniente que tenho vislumbrando é nos e-mails. E-mails são uma faca de dois gumes. Neles encontro coisas lindas e valiosas. Muitos de meus programas na rádio são tirados dos e-mails cheios de ensinamentos, mensagens e esclarecimentos. Os e-mails me fazem muito refletir. Por outro lado, o número de abobrinhas enviadas é incontável. Piadas preconceituosas, pornográficas e grosseiras, bem como as famosas correntes, que ameaçam você, caso não prossiga em seu curso, faço até questão de interromper. Chantagem sentimental ou outras mais não têm valor. Tirando isto, tudo bem. Vamos aderir ao mundo virtual e melhorar nossos conhecimentos, nossas relações humanas e nosso meio de nos comunicar com amigos e com desconhecidos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Três nomes tenho eu

Parece-me coisa rara o fato de uma pessoa possuir três nomes, o que, aliás, acontece comigo. Depois de ordenado sacerdote, recebi o nome oficial de Padre Silva. Silva, porém, é sobrenome, uma vez que meu nome de batismo e de registro no cartório é João. Passei por seis lugares e meu nome foi sempre o mesmo: Pe. Silva. Depois de pouco tempo em Capitólio, graças a uma brincadeira de alguns sobrinhos meus, pegou o nome de Pê, que não passa da abreviação da palavra padre. Em minha terra natal e entre meus parentes mais antigos, continuo sendo conhecido como João.
O mais interessante de tudo isto é que meus três nomes funcionam ao mesmo tempo, dependendo do lugar em que residem ou em que me conheceram meus interlocutores. Moradores de Assis, Lutécia, Florínea e redondezas, bem como pessoas de Bambuí ou de Tapiraí só me chmam de Pe. Silva. Se me chamarem de Pê ou de João, eu não atendo, por não entender que se trata de mim. Se um capitolino me chamar de João ou de Padre Silva, também não compreendo que falam comigo. E assim por diante. A conclusão que tiro é que o nome da gente depende dos outros e não de nós mesmos. Soa bem na boca das pessoas aquele nome de que elas gostam ou que elas escolheram para nós. Agora, se me perguntarem de que nome eu gosto mais, digo que gosto de todos, contanto que estejam nos lábios certos. João ou Pê na boca de um amigo de Lutécia me deixaria sem jeito e até desapontado. Quando me chamam de Pe. Silva, tal nome soa a meus ouvidos como verdadeira melodia, suave como as rosas. Coisas da vida. E se me chamarem de Boi Sonso? Aí o apelido dado por minha mãe só soa bem na boca de meus irmãos Jair, Martha e Beatriz.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Viagem da Saudade 6

Ao começar a última etapa da narração da viagem da saudade, posso dizer que já começo a sentir também saudade da narração, que me faz reviver aqueles momentos mais do que felizes, junto aos amigos de cinquenta anos passados. Mas tenho que terminar, falando de Presidente Prudente, aonde fomos no penúltimo dia de nossa alegre estadia em lugares plenos de recordação.
Beirando cinco da tarde, chegamos à cidade de Prudente, convidados pelo Antônio Garrio Campioni, meu ex-aluno do seminário de Assis, nos anos de 1962 a 1966. Antes, porém, fomos intimados a visitar a simpática Rosinha, aquela menininha de dois a três anos, meu modelo infantil no seminário, de quem tirei muitas fotos, em várias posições. A recepção foi a mais calorosa e amiga, com beijos, abraços, choros e sorrisos. Foi verdadeiro show de emoções, alegrias e recordações. Um lanche verdadeiramente principesco nos foi servido, regado a lembranças do passado e a passagem a limpo do presente. Sinal de nossa amizade conservada era a foto da Rosinha, bonequinha de tenros anos, no meio do painel de retratos que embelezavam a parede principal de sua sala de visitas. Só espero que não acabem nunca mais nossos encontros de amizade, dos quais o daquele dia foi prelúdio. E ainda tive o prazer de bater um papinho gostoso com a bondosa Dona Sâmea, mãe amorosa da Rosinha. A toda a família meus maiores agradecimentos, codmo também da Neiva, que se sentiu em casa.
Como último ato de nossa viagem, chegamos finalmente à casa do Garrio. Outra surpresa emocionante, ao abraçar o dedicado aluno de outrora, estudioso e talentoso.
Ali estava também o Medeiros, outro ex-aluno de Assis, com quem tive o prazer de privar de agradável e frutuoso papo. A esposa do Garrio, a filha e outros parentes e amigos se esmeraram no desejo de tornar aquela noite mais alegre e feliz. O churrasco e as guloseimas foram especiais. Fechamos com chave de ouro aquela viagem da saudade, que ainda curto até hoje, minuto a minuto, deixando no mais profundo da alma e do coração um lugarzinho reservado para cada uma das pessoas que tanto nos amam e engrandecem.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Viagem da saudade 5

No dia 27 de janeiro chegamos a Lutécia, à tarde. Dona Terezinha e a Lúcia regressaram para Assis, depois de nos entregarem aos cuidados da Lucília, minha antiga conhecida, cujo marido, Jurandir Fiori, já falecido, foi prefeito de Lutécia por três vezes. Descansamos tranquilamente no apartamento confortável daquela residência, que nos foi cedido com muita cordialidade. Aqui fica nosso agradecimento a Dona Lucília. No dia seguinte, a convite, fomos almoçar na casa do Gélsio Paulo de Carvalho. Este ocupa lugar importante em meu coração e em minha história. Era ele que me levava, todo fim de semana, para exercer o trabalho pastoral e sacerdotal na paróquia de Nossa Senhora da Boa Esperança, em Lutécia. Custava-me muito esperar a chegada do amigo Gélsio, com seu jipinho 51. Na noite seguinte, um sábado, dormimos na casa do velho amigo, o que me proporcionou a oportunidade de matar muitas saudades e recordar fatos inolvidáveis de nossos tempos de cinquenta anos atrás. Parecíamos estar sonhando. Como já disse, de vez em quando nos flagrávamos silenciosos, olhando um para o outro,sorridentes e falando mais com os olhos e com o coração.Amgios são coisas para se guardarem.
Já no dia seguinte, um sábado, nosso lauto almoço foi na residência dos Guizilin, outros amigos do passado. Seis ou sete filhas lá estavam, boa parte com com seus maridos. Almoçamos principescamente e fizemos muitas referências a Dona Lili e ao senhor José Guizilin, verdadeiros pais para mim em Lutécia.
Outros amigos encontrei, como o Arnaldo, O Zé Barquilha e esposa Hermínia, a Inês do Gélsio, mas especialmente a Dona Hermínia, viúva do saudoso Zezinho Augusto, tão bem cuidada pelas adoráveis filhas Maria Hermínia e Lúcia. Encantados ficamos com a beleza da casa, entregue aos cuidados de tão dedicadas filhas. Somente hoje acabei de devorar o gostoso queijo que fabricaram e com que nos brindaram. Muito grato a vocês, menininhas de outrora, minhas cruzadinhas lindas de morrer.
A Lutécia e a todos os seus moradores nossa gratiddão. Gostei de ver o grande progresso experimentado nos anos que se passaram desde minha saída. Tudo mudou mas o povo continuou o mesmo, cheio de amor, gratidão e carinho.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Viagem da Saudade 4

28 e 29 de janeiro foram os dias da realização de meu grande sonho de rever Lutécia e meus queridos amigos lá deixados. Há mais de quarenta anos que venho sonhando frequentemente com Lutécia. Sonho que era verdadeiro pesadelo, pois eu me via como recém-chegado à cidade, sendo porém rejeitado pela população e mesmo escorraçado do local, devido a minha condição de padre casado. Entretanto, o malfadado pesadelo nunca me preocupou e nem me afastou da vontade de voltar às origens de meu gostoso trabalho junto ao povo, como padre vicentino.
Lá fomos nós, a Neiva e eu,sempre ladeados pelos dois anjos da guarda que foram a razão de nossa ida àquelas lonjuras do interior de São Paulo. Refiro-me, mais uma vez,à Dona Terezinha e a sua filha Lúcia. Tudo eram recordações. Relembrei meu anseio da chegada do Gélsio, que vinha no sábado à tarde, a fim de conduzir-me a Lutécia. Eu me postava por horas e horas na sacada do seminário, tentando vislumbrar, lá em cima, o jeep 51, que me levaria ao trabalho pastoral com minhas queridas ovelhas. A estrada, hoje asfaltada, era toda de areião, através da qual o jeep ia dançando. De vez em quando era até necessária a presença de um trator, que arrastava os carros atolados na areia. Chegado à casa paroquial, eu tomava meu banho primitivo, por meio de uma lata de vinte litros cheia de água, que era levantada por uma roldana. Um chuveiro soldado ao fundo externo da lata soltava a água fria que era verdadeiro lenitivo, após a calorenta viagem.
Durante um ano e meio, do começo de 1962 até meados de 1963, fui o pároco de Lutécia, embora totalmente verde e imaturo naquela atividade. Creio até que meu apego e minha saudade daquele lugar tão simples e pequeno vem do fato de ali ter nascido minha primeira experiência com o povo, minha facilidade de falar e me comunicar e minha naturalidade em conviver como um igual, no meio de todos os paroquianos.
Quanto a minha visita da saudade, esta fica para a próxima vez, para não me alongar demais e tornar-me enjoativo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Viagem da Saudade 3

De Assis me mandei para Florínea com minha esposa Neiva, sempre levado pela anfitriã Lúcia e por sua mãe Terezinha. Quando ainda trabalhava no Seminário de Assis, como diretor espiritual, passei a atender àquela paróquia, aonde eu ia no sábado e voltava no domingo. Dom Lázaro me apresentou à comunidade. O lugar,vizinho do Paraná, era muito pobre,sujo,cheio de casas de madeira e com população muito reduzida,talvez de três mil pessoas. Não havia calçamento de espécie alguma e a terra roxa impregnava tudo. No tempo da chuva era horrível.A lama roxa agarrava-se aos sapatos e encardia tudo, até nossa própria pele. Entretanto eu me dediquei, trabalhei bastante, ganhei a confiança e o amor da comunidade. Ali trabalhei nos anos de 63, 64 e 65.
Hoje está tudo muitíssimo melhor. Tudo asfaltado, casas boas e bonitas, administração municipal bem organizada.Entretanto meus maiores amigos e conhecidos morreram ou se mudaram. Só tive notícias do Toninho Barreiros e de sua esposa Laura, casal que morava na zona rural e que me levava de carrinho pelas estradas barrentas, a fim de celebrar a missa na fazenda de seu pai. Encontrei o velho Toninho com mais de noventa anos, quase inválido de tudo, sem poder sair de casa. Sua esposa nos recebeu calorosamente, mas disse que, se ela não me reconhecera, o Toninho é que nem ia desconfiar que eu era o Pe. Silva. Pois o querido amigo logo me reconheceu e, embora surdo e recebendo por escrito nossas falas, permaneceu sorrindo o tempo todo, sorvendo com o coração minhas palavras de amizade. Só aquela visita valeu a ida a Florínea. O Toninho e a Dona Laura se grudaram mais ainda do que antes em meu coração agradecido.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Viagem da Saudade 2

Importante para mim em Assis foi visitar o antigo Seminário São José, cujo imponente prédio serve hoje para os departamentos diversos da Cúria Diocesana. Recebi licença para andar à vontade, recordando meu passado de padre recém-ordenado, inteiramente inexperiente. Estive aos pés da bela imagem de Nossa Senhora das Graças e me lembrei dos peixinhos coloridos e alegres que viviam no tanque ali outrora existente. Acabou-se o tanque e os peixes sumiram. Imagem forte do fim do seminário, cujo prédio não possui mais a água do saber e da presença dos padres. Então sumiram também os seminaristas que davam vida ao estabelecimento. Lembrei-me do teatro a que presidi, de meu quarto de disciolinário, do quarto depois meu, de diretor espiritual, bem como do cubículo debaixo da escada, que servia de laboratório para meus serviços fotográficos, como fotógrafo oficial do seminário. Passei pela catedral, pela Santa Casa, onde celebrei missas e atendi à confissão das irmâs de caridade. Revi, de passagem, o Colégio Santa Maria, onde celebrava uma vez por semana e atendia frequentemente às confissões das belas e tentadoras alunas, sempre um perigo para minha pureza que heroicamente conservei até meu casamento. Pena foi que não me encontrei com Monsehor Floriano, tão amigo e companheiro. Tudo, porém, foi muito bem e compensador. Faltava agora uma ida, ainda que rápida a minha antiga paróquia de Florínea, que deixei em fins de 1965.