quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Estigma que Carrego

     Com todo o respeito aos estigmas de São Francisco, eu costumo dizer que carrego, no joelho direito, não nas mãos e nos pés, um estigma muito mais humilde e infinitamente inferior aos estigmas do grande pobrezinho de Assis. Conta a história da Igreja que o santo da ecologia recebeu, misteriosamente, nas mãos e nos pés, verdadeiras réplicas das chagas de Jesu na Cruz. Mal comparando, tenho a pretensão de dizer que também adquiri um higroma, no joelho, durante meus dois anos de noviciado, na Congregação da Missão. Para quem não sabe, higroma é uma protuberância que se forma no joelho, ocasionada por  certo líquido, tomando a forma de grande caroço que pode doer e inflamar-se, sobretudo quando se ajoelha. Pois bem. Eu, em meu grande desejo de me tornar santo, conforme a finalidade específica dos dois anos de aprofundamento religioso, entreguei-me totalmente à tarefa, rezando e me ajoelhando com frequência demasiada. A oração era considerada o caminho mais rápido e eficiente para a santidade requerida de um sacerdote de São Vicente de Paulo. O certo é que, de tanto rezar, tive que ser operado em um hospital da cidade de Petrópolis. O tempo passou, a ferida sarou, mas os treze pontos da cicatriz permaneceram, deixando para sempre um sinal nada agradável de se ver. Como, porém, aprendi no mesmo seminário a fazer uma limonada do limão que me dessem, resolvi enxergar, na minha cicatriz, um estigma deixado pela Providência, para sempre me lembrar que o que santifica, o que aproxima de Deus uma criatura não são as orações, os sacrifícios, os ritos e as cerimônias, mas antes e somente o amor ao  próximo e a Deus. Em verdade, bem mais tarde, entendi que eu comecei a progredir como cristão foi quando comecei a jogar-me nos braços das comunidades a que servi e quando entendi que a única mensagem de  Jesus para quem deseja seguí-lo consiste em amar a todos como irmãos, repartindo com eles o que temos.

Um comentário:

  1. O teu progresso como cristão foi imenso,acho que poucas pessoas são tão integra, caridosa como vc, sempre escutei, a tia Lia, o povo de Capitólio, falar de sua dedicação, e alegria de fazer algo pelo proxímo. Abraços.

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