segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ateus e Ateus

     Em meu modo de entender, que penso ser o mais correto, nem todos aqueles  que se dizem ateus são ateus. Segundo a etimologia da palavra, ateu significa aquela pessoa que não acredita na existência de um Deus, ou melhor, de um ser primeiro, supremo, origem do universo. É ainda costume considerar ateus aqueles que acreditam na ciência, que se aprofundam na filosofia pura, que se imiscuem nos mistérios profundos da natureza. Eu penso o contrário. Estou convicto de que, quanto mais os sábios e estudiosos se aprofundam no saber, mais se deparam com a necessidade de um  princípio supremo e inteligente, de uma causa primeira, de um primeiro motor. Sem dúvida alguma dão de cara com  o Criador. E isto é ser ateu? E por que os chamamos de ateus ou até eles mesmos se dizem ateus? Para mim está tudo muito claro. Os que chamamos de ateus são de fato ateus, mas ateus daquele deus que aprendemos desde a catequese infantil e que nos acompanhou pela vida afora. São ateus daquele deus justiceiro, vigia permanente de todos os nossos passos, olho terrível a acompanhar nossos mais secretos pensamentos. Desse deus terrível os ateus se julgam distantes e descrentes. Eu mesmo, sem querer a ninguém escandalizar, me considero ateu daquele deus que aprendi e que tanto sofrimento e medo me causou durante grande parte de minha existência. O Deus dos ateus me parece ser o mesmo Deus em que hoje acredito, que é o Deus amor, cuja essência é só amor, em que não há justiça, nem condenações, nem fiscalizações. Nosso Deus é só amor. Nosso Deus é Pai, como Jesus nos ensinou a chamá-lo. É o Deus que, em nosso último momento nesta vida, estará junto de nós, esperando simplesmente o reconhecimento de nossos pecados e fraquezas, a fim de nos perdoar e de nos levar com ele para o Paraíso. Não foi assim com o bom ladrão, que de bom não tinha nada, mas apenas os maiores malefícios, senão não teria sido condenado à pior das penas do império romano. E não foi levado imediatamente ao  Paraíso pelo Cristo, ao manifestar o reconhecimento de seus crimes numerosos? E agora?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Roubaram Nosso Carro

                Dez horas da noite de quarta-feira, dia 6 de junho, primeiro dia da tradicional Festa de São Vicente de Paulo. Neiva e eu saíamos do recinto da festa, mais precisamente do bar, onde trabalhávamos, eu como atendente e a Neiva como pipoqueira. Ela ia para casa, devido ao cansaço da lida do dia, enquanto eu a levaria, voltando depois para o serviço de balcão.
     Quando chegamos ao local onde tínhamos estacionado o carro, cadê. O carro sumira. Em seu lugar descansava outro veículo. A Neiva já foi colocando as mãos na cabeça e amea.çava perder as estribeiras, enquanto eu lhe falava: ou roubaram nosso Fiat ou a Polícia o guinchou.
     Logo o assunto correu, um grupo de curiosos, alguém mandava telefonar para a Polícia, enquanto outros perguntavam se não tínhamos mudado de estacionamento. Eu, lembrado de uma frase que lera ainda no noviciado, aos 17 anos de idade, repeti para mim mesmo: "se lhe derem um limão, faça dele uma limonada". E então, enquanto caminhava lentamente na observaçãodas placas dos veículos, fui ruminando e avaliando as vantagens de ficarmos sem um carro. Primeiro, ele não era essencial para nossa vida e felicidade. Além do mais, não teríamos mais que pagar IPVA, seguro do veículo, pneus novos, gasolina e manutenção. Eu estava transformando o limão em limonada. Aí a Neiva começou a gritar: Olhe ali o carro. Nós o tínhamos mudado de lugar e não o tínhamos lembrado. E lá estava nosso  Fiat, quietinho, conservadinho e inteiramente alheio a nossas preocupações.
     Para dizer a verdade, senti até certa tristeza com o achado, pois já me acostumara ao pequeno desconforto ocasionado pela perda. Inclusive eu já pensava em poder fazer novas viagens ao exterior, graças à economia com a falta do veículo. Enfim, seja o que Deus quiser.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cada Terra com seu Uso

                 Depois de nossa viagem ao Chile e à Argentina, resolvemos, A Neiva, a Paula e eu, comemorar a chegada com um  lauto banquete mineiro no domingo, no apartamento da Paula, na capital paulista. Estivemos em vários hoteis nos dois países visitados, frequentamos restaurantes e cafés de fama, deparamos com comidas sofisticadas e muito apreciadas pelos países vizinhos. Gastamos, a meu ver inutilmente, grande parte de nosso dinheiro com comidas muito diferentes das nossas e muito apreciadas por chilenos e argentinos. Para falar a verdade, eu me aproveitava bastante do café da manhã, muito rico em frutas e quitandas variadas. No resto do dia eu ia quebrando o galho com lambiscos pescados nas refeições do decorrer do dia. Não digo, de maneira alguma, que a comida era ruim. O caso é que, como diz velho ditado, "cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso". Nós brasileiros herdamos a culinária dos indígenas, dos negros e até dos portugueses. E, dentro do Brasil, a comida mineira ainda parece destacar-se mais ainda das dos demais estados. O certo é que já chegamos ao último dia, em Buenos Aires, cheios de saudade e de vontade de nossa comidinha caseira e mineira. Nosso banquete, mais gostoso para nós do que tudo que vimos de sofisticado, constou, nada mais nada menos, do que de cinco pratos cheirosos, quentinhos e saborosos, contendo arroz, feijão, angu, carne moída e variada salada de verduras. Comemos e nos fartamos à bessa, procurando tirar o atraso do jejum, de onze dias, de nosso queridinha comida caseira de nosso dia a dia. Valeu, porém, a experiência, pois aprendi a valorizar ainda mais, a cada refeição diária, a gostosura e o prazer de nossa comidinha mineira. E olhem que eu nem falei do tutu de feijão, que é outra preciosidade de nosso cardápio mineiro. "Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso".