domingo, 15 de julho de 2012

Tragédia de Jorginho na novela "Avenida Brasil" aconteceu conosco

     Assistindo ontem ao capítulo da novela, em que Jorginho se perdeu no Pico do Açu, aonde foram procurá-lo a namorada e um colega, lembrei-me, de imediato, de um fato muito semelhante, sucedido no mesmo local, precisamente no ano de 1956, se não me falha a memória.
     Eu era estudante no Seminário São Vicente de Paulo, em Petrópolis. Sob a chefia do Pe. Almeida, nosso prefeito de estudos, formamos um grupo de uns vinte ou mais estudantes e nos mandamos, a´pé, para o Pico do Açu, distante uns vinte e poucos quilômetros do seminário. Depois de deixarmos a rodovia, subimos uns quinze quilômetros, ou pouco menos, floresta acima, em trilho estreito e pouco frequentado. Chegados ao famoso pico, tratamos logo de comer alguma coisa de nossa matula e cuidamos de procurar capim, para fazermos nossas camas, onde passaríamos a noite inteira, debaixo da imensa rocha arredondada. Foi uma noite tremendamente fria, em que não dormimos quase nada, sobretudo devido ao choro ininterrupto de um companheiro, atacado por forte dor de dentes.  O dia  seguinte foi de conversas e programas improvisados, até ao momento de voltarmos, lá pelas duas ou três horas da tarde. Tudo correu normalmente, até que chegamos ao fim da floresta, já perto da rodovia, que devíamos ainda vencer a pé, até à chegada ao seminário. Mas qual não foi nossa surpresa, aoa vermos que faltavam quatro companheiros que nunca apareciam. Então o Pe. Almeida escolheu dois de nós, a fim de subirem novamente a floresta e procurarem os colegas desaparecidos. O Tarcísio Ferreira e eu fomos os escolhidos para a espinhosa missão. Lembro-me de que minha escolha se deveu ao fato de meu assobio ter sido o mais forte e estridente de todos. E lá fomos nós, subindo novamente uns cinco quilômetros, floresta adentro, gritando e assobiando de vez em quando e escutando, em silêncio, alguma possível resposta dos amigos. Somente depois de chegarmos ao cume da serra, escutamos, muito longe, uns gritos dolorosos, lá no fundo da montanha, nos rumos do município de Terezópolis. Com o coração partido mas aliviados, continuamos a gritar e a marcar o local de nossa presença, enquanto os quatro sumidos subiam uma tremenda montanha, tendo gastado talvez mais de uma hora de subida. Ao chegarem perto de nós, estavam amarrotados, tristes, arrastando-se penosamente. E começamos novamente a descida da serra e da floresta, já com a noite a cair, munidos apenas de uma lanterna, levada pelo companheiro da frente, a nos anunciar cada buraco ou tropeço que surgia no caminho. Noite escura mata adentro, até chegarmos à planície, onde batemos a uma porta amiga que nos recebeu, já depois da meia noite. Então ligamos para o seminário e pedimos que nos fosse buscar a caminhonete da casa, dirigida pelo prestimoso Irmão Melo. Finalmente chegamos ao lar lá por uma hora e meia da manhã, para alívio de toda a comunidade que, certamente, fora dormir ansiosa, pedindo a Deus pro nossa segurança e pelo feliz encontro dos quatro desaparecidos. Foi uma novela da vida real.