domingo, 19 de abril de 2009

Agregados em Serviço

Cá no Feudo dos Arantes, incrustado no condomínio da Ilha, no município de Capitólio, muitas coisas acontecem no correr do dia a dia, geralmente cheias de lances engraçados e pitorescos. Um deles diz respeito ao serviço voluntário de dois animados agregados, que resolveram dar um trato caprichado na grama que se tenta plantar no terreno que rodeia o Rancho da Dindinha, a matriarca do clã e já conhecida como caçadora inveterada de pragas.
Surgiu aqui também o uso do termo agregado, para classificar aqueles ou aquelas que se ligaram aos Arantes pelo vínculo do matrimônio, tornando-se cunhados e genros. Mas vamos à história que agora interessa:


Dois antigos agregados
Da família dos Arantes
Querem provar que não são
Preguiçosos nem tratantes.

Em sábado de descanso,
Resolvemos enfrentar
A triste terra vermelha,
P'ra na grama esparramar.


O Quinca pega o carrinho,
Eu me valho da enxada,
Pego a pá e vou deixando
A roupa toda manchada.

Sorridentes na tarefa,
Suavam os dois agregas,
Sem pensar que, das mulheres,
Vinham chegando as esfregas.

Filhas de Dona Lilia,
DNA não negaram.
Sendo a matriz L1,
2 e 3 a acompanharam.

Neiva do Pê, ora pois,
Ficou sendo a L2.
A Neilma tudo fez
Para ser a L3.

Deixando logo os porém,
E voltando à vaca fria,
Vou contar o que as duas
Fizeram naquele dia.


Plantar grama no cascalho
É só com terra vermelha.
Neilma vai dando bronca,
Falando o que dá na telha.

Com certeza, o que ela teme
- A L3 tão danada -
É a presença da mãe,
Cuidando da pragaiada.



A L1 só com praga
Não se pode contentar.
Catando pedras também,
Nesta terra vai andar.


A L2 fica fula,
Me chama na regulagem:
Desta roupa avermelhada
Não dou conta da lavagem.

Roupa tão emporcalhada
Agora não lavo mais.
Vá p'ro tanque, esfregue e lave
E estenda já nos varais.

Este tênis que lhe dei
Para fazer caminhada
Não pode ser mergulhado
Nesta terra enlameada.


Mas, apesar dos pesares,
Vivemos em doce lar,
Sendo esposos de mulheres
Que só sabem trabalhar.

Cinco coisas de uma vez
Têm sempre que fazer.
Dos Leonel sendo raça,
Para elas é prazer.

Trabalhar de vez em quando,
Para nós, os agregados,
É vida pedida a Deus,
Para ao Céu sermos levados.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Feliz Páscoa!

Esta saudação me foi repetida muitas vezes por pessoas de lugares diversos do Brasil. Eram aqueles meus companheiros do jogo de buraco pela internet. Aí fiquei perguntando a mim mesmo: -Que desejarão dizer tais pessoas com esta saudação? Acredito que , para elas, não passa do mero desejo de um dia agradável e alegre no chamado Domingo de Páscoa. Assim como se diz Feliz Natal, Feliz Ano Novo, Feliz Aniversário. É claro que tem muito valor tal desejo de felicidade, mas Feliz Páscoa tem um significado muito mais profundo, mais espiritual, mais cristão, mais vivencial.
Páscoa é uma palavra que quer dizer passagem, na linguagem dos hebreus. A Ceia Pascal e a comemoração da Páscoa foram introduzidos entre o Povo Escolhido pelo grande profeta Moisés, a mando do próprio Criador. A Páscoa foi intruduzida para comemorar a passagem dos israelitas da escravidão egípcia para a libertação da Terra Prometida, como ainda para relembrar a milagrosa e espetacular travessia do Mar Vermelho a pé enxuto, no começo de sua caminhada salvadora.
Mais do que tudo isto que acabei de dizer, a Páscoa tomou, com sua celebração por Jesus Cristo na Quinta-feira Santa, o sentido muito mais aprofundado ainda de passagem do pecado, da morte e do egoismo para a vida que nunca acaba, para a felicidade sem fim na eternidade e para uma existência de amor e de partilha com os humanos aqui em nossa terra.
Será que é isto que pensamos e que desejamos para quem saudamos com uma Feliz Páscoa? Ou este voto não passa de mais um dos rituais vazios e das palavras baloufas em que andamos transformando o Cristianismo que Jesus veio trazer-nos?

domingo, 12 de abril de 2009

BURAQUEIRO-MÓR

Em nossos ranchos, à margem das águas mais límpidas da represa de Furnas, o pitoresco é quotidiano. Picuíbas aparecem, caçadores de pragas surgem de repente, jogadores de buraco, então, é o que não falta.
Dentre os mais folclóricos buraqueiros de nosso arraial sobressai o Aclino que pssui, em seu cardápio de manias de jogo, o costume de chamar o cobiçado coringa pelo carinhoso apelido de Dunga.
Em suas bodas de ouro de nascimento, resolvi brindá-lo com despretensiosos versos que procuram retratar sua figura ímpar no jogo de buraco.

O Aclino, no Buraco,
É jóia de raridade.
Só precisa desistir
De ser dono da verdade.

Para ser um buraqueiro
Vencedor e sem defeito,
Deve deixar o parceiro
Fazer jogo de seu jeito.

Ele joga com esmero
Mas depressa vira bicho.
Não perdoa o companheiro,
Quando compra e deixa o lixo.

Enfezado, larga o jogo,
Mas tem uma qualidade.
Quando sua cuca esfria,
Volta com toda humildade.

Aclino pula p'ra cima,
Ele berra, grita e funga.
Certamente é porque
Nas mãos ele tem um Dunga.

No Buraco, a mulher
Para ele não apita.
Nem visita, nem as filhas,
Nem a esposa Marilita.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Refletindo Nosso Cristianismo

Baruch Spinoza, holandês, um dos maiores pilares da moderna Filosofia, era praticante do Judaismo e profundamente crente em Deus. Devido à corajosa exposição de suas idéias, foi excomungado e até ameaçado de morte. Isto, no século XVII, lá pelos anos de 1650.
Uma daquelas suas idéias merece profunda reflexão, especialmente de nós, que nos pretendemos cristãos. Spinoza achava que os dogmas rígidos e o ritualismo vazio eram as únicas coisas que ainda mantinham vivos o Cristianismo e o Judaismo. Só discordo de Spinoza quando ele fala da falência do Cristianismo. A meu ver, seria mais correto falar das diversas igrejas cristãs e não do Cristianismo. O Cristianismo continua como nunca, agindo profundamente no coração de todos aqueles que fazem do amor, pregado pelo Cristo, a razão e o sentido de seu peregrinar cá pela terra. De acordo com o próprio Concílio Vaticano II, fazem parte da igreja genuina de Jesus todos aqueles que se deixam iluminar e conduzir pela mensagem evangélica do amor e da partilha, ainda mesmo que adorem deuses de pedra, sem a oportunidade do conhecimento do verdadeiro Deus.
Não seria hora de cada um que se diz cristão entrar em si mesmo, questionar sinceramente sua fé, colocar nos trilhos sua jornada terrena e verificar se não desliza nos falsos trilhos paralelos do dogmatismo implacável e do ritualismo vazio e sem sentido?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rebentos da Fofoca

Morar no interior, sobretudo naquele muito mais interior ainda, composto de cidades de pequeno porte, tem muitas vantagens e algumas desvantagens. Um dos maiores inconvenientes do interior é a fofoca, pela qual muitos se metem na vida de todos, inventando, aumentando e distorcendo os fatos. Entretanto, a meu ver, não deixa de ser esta uma especial maneira de ser social, de estar presente, de participar da vida de todos, nem que seja pela pura imaginação.
Dona Fofoca está sempre presente, sempre ao lado de seu marido Fuxico, sobretudo gerando filhos para os pobres namorados. Senão, vejamos:


Melhor que na capital
É vida no interior.
Só que tem que ser levada
Com boa dose de humor.


Eu mesmo, padre casado
Com bela freira gorada,
Antes mesmo do casório,
Já tinha uma filharada.


Um surgiu na sacristia,
Mais outro no batistério.
Uns dois no confessionário,
Outro até no cemitério.


Namoradinho que afaga
Da namorada a barriga,
É pai, com toda certeza
De mais um filho da intriga.


Namorada comilona,
Que logo fica gordinha,
Encomendou, certamente,
Um filho da Fofoquinha.


Se roupa longa ela usa,
P'ra gordura disfarçar,
Novo filho é prato cheio
P'ra Fofoca comentar.


Se a pobre moça, na festa,
Toma água e não cerveja,
Vizinha quer do neném
Ser madrinha na igreja.


Mulher que só quer ser mãe,
Sem marido carregar,
Recomendo a companhia
Da Fofoca procurar.