quarta-feira, 17 de outubro de 2012

História Verdadeira de um Procurador

     Aconteceu, de verdade, em Lutécia, pequena cidade do interior de São Paulo, onde eu exercia, nos fins de semana, a função de pároco provisório. Em um domingo, ao se aproximar o momento dos batizados, pelas dez da manhã, observei um falatório inusitado, com certa exaltação dos ânimos, no local da realização dos batizados. Logo me colocaram ao par do furdúncio, ocasionado pelo sumiço do padrinho nas ruas da pequena cidade. Para os familiares ali reunidos, não poderia haver batismo válido sem a presença do padrinho e da madrinha. Embora padre muito novo, com meus vinte e seis anos apenas, coloquei em prática meus conhecimentos de direito canônico e civil, tentando acalmar os ânimos. Com toda calma eu pedi tranquilidade a todos, asseverando que o caso não era motivo de desgaste e que o batismo poderia ser realizado com toda validade, apesar da ausência do padrinho escolhido. Bastava que se colocasse um procurador representando o dito cujo. Mas o padrinho continuaria sendo o escolhido, embora ausente da cerimônia. Quando perguntei pelo escolhido para procurador, um dos presentes replicou logo que um procurador já fora enviado para percorrer todas as ruas, para "procurar" o padrinho desaparecido. É claro que minha vontade foi de soltar tremenda gargalhada mas permaneci sério, compreensivo, calmo e à espera de que chegassem à igreja o padrinho e seu "procurador".
     Este foi um dos casos verdadeiros que aconteceram em meus anos de ministério eclesiástico. Dele nunca me esqueci e quando, depois de cinquenta anos, voltei a Lutécia, não pude deixar de lembrar-me do acontecido, ao adentrar a bela igreja que tantas recordações bonitas me deixou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário