terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Epopeia de um Rancho (XV)

Nesta fase da construção, o mais interessante foi a bronca que o arquiteto Gustavo deu, por
causa de um erro na construção dos vãos das janelas.


31 DE JULHO DE 2006

Mais uma vez com o Lucas,
Ainda o sol a raiar,
Para a Ilha nos mandamos,
Afim de a laje regar.

Também o Paulo Rogério,
A fim de nos ajudar,
Chegou após nosso almoço,
P’ra levantar um pilar.

16 DE AGOSTO DE 2006

Quinze dias de descanso
Foi tempo bem adequado
Para eu voltar com saudade
E muito mais animado.

Seis masseiras preparei
E deixei para curtir.
E já chegava o padrão,
Comprado do Ivair.


18, 19 e 20 DEAGOSTO DE 2006

Foi este tempo aplicado
Por mim e minha Neivinha
No começo do contorno
Das janelas da cozinha.

24, 25 e 26 DE AGOSTO DE 2006

Nossa dupla persistente
Continuou trabalhando,
Inclusive os serviços
Do padrão encaminhando.

28 DE AGOSTO DE 2006

Solitário, sem a Neiva,
Eu quis bancar o durão
E levantar, sem ajuda,
O pilar do janelão.

Minha grande obra-prima
Virou foi calamidade.
Ficou fininha no meio
E grossa na extremidade.

31, 1, 2 e 3 DE SETEMBRO DE 2006

Após uma grande bronca
Do Gustavo, o arquiteto,
Tratamos logo de agir,
Na mudança do projeto.

Só quero duas janelas
- Falou bravo que nem cobra –
Senão, sem pestanejar,
Eu abandono esta obra.

Tive grande suadeira,
Consertando meu pilar.
Parecia, disse o Quinca,
Modelo dos Leonel.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Epopeia de um Rancho (XIV)

Agora começa a preparação para a próxima laje, que funcionará como piso da cozinha. Também aconteceu o primeiro desmanche. Foi mais difícil derrubar do que levantar uma parede da escada da cozinha para o primeiro pavimento.


19 DE JULHO DE 2006

Ida cedo e volta à tarde,
Com Neiva, Paula e as netinhas,
Mais um dia trabalhamos,
Cumprindo nossas rotinas.

Escoramento e lajotas,
Tiãozinho então preparava
P'ra fundir mais uma laje,
Cujo tempo já chegava.

22 e 23DE JULHO DE 2006

Na Ilha se deparavam
Arantes por todo lado.
Usamos do Quinca o rancho
Para nós desocupado.

Balaio de gato armamos
Com dois colchões pelo chão.
Juntinhos, demos às netas
A maior satisfação.

A parede das escadas
Tivemos que desmanchar.
Derrubar foi mais penoso
Dói que a mesma levantar.

O mais triste do desmanche
Foi que a parede em questão
Foi mais custosa de erguer,
Por ter certa inclinação.

26 DE JULHO DE 2006

O Lucas e eu ralamos
Nas paredes da cozinha.
No mesmo dia voltamos
Para o almoço da Neivinha.

28 DE JULHO DE 2006

Mais uma ida, uma volta,
Lucas e eu novamente.
Até hoje, em nossa obra,
O Lucas sempre presente.

Então, dos quatro pilares
Das paredes da cozinha
Cuidamos com todo o amor
Que em nosso peito se aninha.

Outra ajuda preciosa
Em nosso labor insano
Partiu de um jovem parente,
De nosso amigo Adriano.

29 DE JULHO DE 2006

Presente toda a família,
Inclusive a Poliana,
A tarefa deste dia
Grande prazer emana.

Antes de voltar à noite,
Findou a preparação
Para a laje da cozinha
Acabar em fundição.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O PRESÉPIO DE NATAL

Já se foram -sinais dos tempos - os natais dos presépios caprichados, cheios de bichinhos pastando nos gramados de musgo, com sua estradinha curvada, tendo, lá longe, a figura dos três magos, carregando seus presentes. No fundo da gruta, formada com papéis de purpurina e carvão, o Menino Jesus, na manjedoura, ladeado por Maria, por José, pelos pastores e até por animais. Em nossa casa de Bonfim, a construção do presépio era verdadeiro ritual, envolvendo a filharada toda, liderada pelo Quive, nosso saudoso pai, que ia organizando os materiais e dando formato ao presépio que, aos poucos , ia surgindo da mistura de tantas coisas diferentes. Respaldando aquela beleza toda, nosso pai colocava lá no alto uma grande estrela de madeira, forrada de papel brilhante, cheia de pequenas luzes coloridas. Para mim, a estrela era o ponto alto do presépio.
Agora resolvi, junto com minha esposa , reviver aqueles tempos e fazer um presépio digno de nossa tradição. Não chega a vinte por cento de nosso presépio de Bonfim, mas ficou bonito, parecido com o nosso, com estrela e até com um pequeno lago, onde nadam patinhos que parecem alheios a tudo o que acontece na gruta de Belém.
Tomara que os moradores da cidade se entusiasmem e voltem aos tempos antigos, procurando dar mais importância ao aniversariante do dia, em vez de valorizar mais os presentes, a ceia, a árvore e outros elementos secundários, mais adequados à sociedade de consumo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CEMITÉRIO DE VIVOS

Inventei - se alguém não o tiver feito antes - a expressão "cemitério de vivos", para significar aquelas pessoas que desaparecem por muitos anos, não dão notícias, não escrevem, não telefonam. Tenho ex-companheiros de Caraça que eu gostaria de rever, de abraçar. Entretanto sumiram para mim. Não sei se já morreram ou se andam por algum lugar deste mundão de Deus. Assim acontece com o Lindolfo, com o Fineias, com o Ferreira, com o Pereira, com o Márcio, com o Lana e com seu irmão Aloísio e com multidão de outros mais. Para mim são como defuntos, pois desapareceram, como desaparecem os mortos. Fico triste, angustiado, aflito e desejoso de encontrar tanta gente que fez parte de minha vida e que sumiu como por encanto.
Acredito que estes mesmos que eu nomeei estejam na mesma situação, em busca dos antigos colegas e sem saber se eles morreram de fato ou apenas desapareceram por encanto.
É muito bom quando a gente reencontra velhos conhecidos, como aconteceu com o José Marques e com o Francisco Braz, dois colegas de grupo escolar em Bonfim, que descobri depois de mais de cinquenta anos.
Outro ponto de encontro, aliás dois, são a caravana anual ao Caraça e a confraternização de final de ano dos ex-alunos de nossa querida Escola Apostólica Nossa Senhora Mãe dos Homens. Fico com vontade de não sair mais. Do último encontro em Belo Horizonte não posso esquecer-me do belo papo que bati com o Joaquim Duque. E a conversa final, de uns seis remanescentes, que pareciam não querer que o tempo andasse, para ficarem ali, conversando e refletindo, talvez com receio de que dali fossem lançados na vala comum dos mortos vivos.
É. Agora espero que muitos defuntos vivos saiam para a superfície e venham curtir conosco as belezas inenarráveis do "Haec olim meminisse juvabit".