quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ritual da Pamonha

                               Dentre as maravilhas da vidinha do interior sobressai, nas Gerais, a "fazeção da pamonha". Como tudo em nossa vida corriqueira se transforma em ritos, realizados com sagrada pontualidade, a feitura das tradicionais pamonhas ocupa lugar de destaque na verdadeira liturgia, própria do tempo das chuvas. Tudo começa pela busca do milho, colhido na roça e escolhido a dedo, devendo estar no ponto exato. Colhidas as espigas, é dado aos parentes, aos vizinhos ou aos amigos costumeiros o sinal da reunião. Bacias, fogão, tachos e facões são preparados e distribuídos entre os presentes, de acordo com as habilidades de cada um dos componentes do grupo. Uns picam a base das espigas, outros descascam as mesmas e tiram caprichosamente os cabelos, enquanto outros ralam as espigas. A massa levemente amarelada é passada na peneira de taquara, depois temperada com açúcar, canela, queijo ralado, leite, ovos e manteiga. Chega então a hora mais importante da informação das pamonhas, verdadeira obra de arte, que é confiada a poucas pessoas, dotadas de dom especial. Com uma das palhas verdes é feito um copo, onde se coloca a massa cuidadosamente. Para fechar o copo,  outra palha esconde totalmente a massa, tomando posição inversa à primeira palha. Depois de cuidadoso amarrilho, feito também de palha verde, passa-se ao cozimento das pamonhas, que saem do tacho quentinhas, gorduchinhas e amarradas na cintura, à semelhança de rechonchudas bailarinas.
     Ontem fizemos 82 pamonhas, com apenas 72 espigas. Começada logo depois do almoço, a tarefa se estendeu até às sete da noite, com o trabalho de cinco voluntários da família. Degustei imediatamente duas belas pamonhas, na esperança de passar ainda um bom tempo a saborear gostosura tão apreciada em nosso interior. Se vierem a tempo, poderão participar conosco do belo Ritual da Pamonha.

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