segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Negros libertos podem ter dado origem a Capitólio

     É mais do que sabido que a família Leite da Cunha e a dos Franciscos, vindas das bandas de Ouro Preto, foram as que desbravaram as terras do município de Capitólio e fizeram progredir o arraial primitivo. Entretanto, o  arraial só apareceu no local atual da cidade, depois que um bom grupo de famílias negras aqui se radicou, fugindo do lugar onde moravam. O assunto merece ser estudado a fundo por algum capitolino animado e amante da terra, com tempo para escarafunchar os arquivos de antigos cartórios da região. O que sei foi conseguido através de moradores muito antigos da cidade, que ainda conheceram o chamado Arraial Velho, onde ainda moravam remanescentes dos primeiros negros que por lá apareceram.
     Minha conclusão sobre o assunto, depois de todas as minhas pesquisas e andanças, é que o primitivo arraial Casas de Pedras, também chamado de Arraial dos Papudos, situado a dois ou três quilômetros do centro da cidade, onde hoje se localiza a Cerealista Capitólio, foi o primeiro arraial da redondeza. Era chamado de Casas de Pedras, por causa dos telhados, cobertos de lâminas de pedras, colocadas sem muita simetria. O nome de Arraial dos Papudos provinha do fato de grande parte dos negros serem portadores de bócio ou papo, no linguajar popular. O arraial deve ter-se formado ali pouco depois da abolição da escravatura, por negros libertos, à procura de terra para cultivar e de lugar sossegado para viver em paz. Pode também ter surgido o pequeno arraial de negros fugidos da escravidão, antes mesmo da abolição. Então o dito arraial teria como origem um quilombo, como eram chamados os locais escolhidos pelos negros fugitivos.
     Outra história interessante é o motivo pelo qual os negros do antigo arraial se mudaram para a fazenda do primeiro morador do atual centro da cidade. Certamente portador de bom coração, o fazendeiro  acolheu quem quisesse trabalhar a troco de casa, comida e proteção. Então surgiram muitas casa ao redor da sede da fazenda, logo depois outras mais foram surgindo, construídas pelos filhos e netos do proprietário. A razão do êxodo do povo do Arraial dos Papudos foi um surto de malária que acomemteu a populaçao que, apavorada, tudo abandonou, procurando ajuda e proteção ao fazendeiro mais próximo.
     Curiosa história, que precisa de grande aprofundamento e acurado estudo de gente aplicada e cheia de amor pelat erra natal.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Visita de Mineiros

     Uma das boas coisas da vida antiga, sobretudo do modo simples da vida do mineiro, é o hábito de visitar parentes, amigos e vizinhos. Depois do cair do sol e de lavada a cozinha do jantar, era hora de sair com a meninada, bater na porta de uma pessoa  amiga e começar o papo arrastado e demorado, enquanto a garotada se divirtia na brincadeira de pique  ou de roda. O papo ia longe, só terminando depois de servido o café,como sempre acompanhado de bolo de fubá, de biscoito ou de pão-de-queijo. Belos tempos, quase totalmente destruídos pela televisão, pelas novelas e também pelo computador. Entretanto, não sei se só ou muito pouco acompanhado, resolvi ressuscitar o costume da visita, sobretudo depois que me convenci de que a melhor maneira de servir ao próximo, sobretudo ao próximo carente ou idoso, é uma visita cordial e espontânea. Tomei o costume de fazer pelo menos uma visita por dia, o que me tem feito muito bem à alma e ao bem estar. E resolvi colocar em meu blog tal assunto, depois da original visita que fiz a uma grande amiga nesta semana. Como esteve um tanto adoentada, pediu-me para aguardar seu aviso, no sentido de poder receber dignamente minha visita costumeira. Encontrando-me com ela na rua, combinamos a próxima visita. Então ela me pediu para avisá-la com três horas de antecedência, afim de que pudesse amassar e assar um gostoso pão-de-queijo, a ser comido com o café, ainda quentinho e recém-saído do forno. E a visita foi maravilhosa. Pão-de-queijo à vontade, café bem temperado, vasilha de leite sobre a mesa e conversa a perder de vista, relembrando o passado de Capitólio e os casos engraçados de antanho. Belos tempos!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ritual da Pamonha

                               Dentre as maravilhas da vidinha do interior sobressai, nas Gerais, a "fazeção da pamonha". Como tudo em nossa vida corriqueira se transforma em ritos, realizados com sagrada pontualidade, a feitura das tradicionais pamonhas ocupa lugar de destaque na verdadeira liturgia, própria do tempo das chuvas. Tudo começa pela busca do milho, colhido na roça e escolhido a dedo, devendo estar no ponto exato. Colhidas as espigas, é dado aos parentes, aos vizinhos ou aos amigos costumeiros o sinal da reunião. Bacias, fogão, tachos e facões são preparados e distribuídos entre os presentes, de acordo com as habilidades de cada um dos componentes do grupo. Uns picam a base das espigas, outros descascam as mesmas e tiram caprichosamente os cabelos, enquanto outros ralam as espigas. A massa levemente amarelada é passada na peneira de taquara, depois temperada com açúcar, canela, queijo ralado, leite, ovos e manteiga. Chega então a hora mais importante da informação das pamonhas, verdadeira obra de arte, que é confiada a poucas pessoas, dotadas de dom especial. Com uma das palhas verdes é feito um copo, onde se coloca a massa cuidadosamente. Para fechar o copo,  outra palha esconde totalmente a massa, tomando posição inversa à primeira palha. Depois de cuidadoso amarrilho, feito também de palha verde, passa-se ao cozimento das pamonhas, que saem do tacho quentinhas, gorduchinhas e amarradas na cintura, à semelhança de rechonchudas bailarinas.
     Ontem fizemos 82 pamonhas, com apenas 72 espigas. Começada logo depois do almoço, a tarefa se estendeu até às sete da noite, com o trabalho de cinco voluntários da família. Degustei imediatamente duas belas pamonhas, na esperança de passar ainda um bom tempo a saborear gostosura tão apreciada em nosso interior. Se vierem a tempo, poderão participar conosco do belo Ritual da Pamonha.