segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Padre Pescador

                  Quando cheguei a Capitólio, já estava convencido de que não tinha cabimento um padre de cidade do interior viver às custas do suor  e do trabalho dos paroquianos. Em Tapiraí, de onde acabava de vir, eu era funcionário da Prefeitura, onde trabalhava normalmente como oficial de gabinete do prefeito e recebia pouquinho mais do que um salário mínimo,  o que dava para alugar uma casa em parceria com um velho amigo do lugar, bem como para fazer minhas despesas de comida e de roupas.
     Chegado à nova paróquia, depois de um estudo sobre a situação local e sobre o modo de trabalho das pessoas mais comuns, cheguei à conclusão de que o mais fácil e prático para mim seria tirar minha carteira de pescador profissional e abraçar um serviço honesto, adaptado à realidade local e capaz de me manter e me deixar ainda o tempo necessário ao serviço estritamente paroquial. E foi assim que me mandei para a longínqua cidade de Pirapora, tendo como motorista o conhecido e prestimoso Toninho Abobra. Voltei satisfeito, trazendo no bolso a carteira de pescador e fazendo castelos para minha vida de padre pescador.
     O imprevisto, porém, logo aconteceu. Poucos dias depois, recebi recado de um advogado de Piumhi, chamando-me a sua presença. E qual não foi minha surpresa e decepção quando o mesmo, a pedido de um pescador da região, chamou minha atenção para o fato de eu, um padre que ganhava bem e tinha recursos para uma vida confortável, querer abraçar uma profissão que era o ganha pão de outros pobres pescadores. Não argumentei e saí triste, quase indignado com o fato de um advogado se arvorar em dar opinião sobre minha vida, sem conhecer meu modo de viver e trabalhar, sem dar notícia de que eu preferia ganhar o pão com o suor de meu rosto e não às custas de meus paroquianos. Preferi desistir a brigar, entender as razões do delator e do causídico a entrar em polêmicas desnecessárias. Voltei triste mas não revoltado e parti para outra. Talvez até tenha sido tudo muito providencial, pois caminhei para o lado do magistério, tornando-me professor e diretor do pobre e humilde Colégio João XXIII, de onde comecei a tirar meu sustento e a alimentar mais ainda as mentes dos alunos da cidade.
     Quanto aos causadores de minha decepção, estão hoje na eternidade, certamente felizes ao lado do Senhor e até torcendo pelo êxito de meu desejo de sempre trabalhar pelo bem do proximo mais necessitado do que eu. Que Deus os tenha e a mim me dê forças.

Um comentário:

  1. Até parece história de pescador! Rsrs. Você fez muito pelos jovens de Capitólio. Acho que você nasceu para ser professor e não pescador. Tenho certeza que Capitólio agradece pela sua opção. Bjs

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