quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Compensa a Mentira do Papai Noel?

Já tive algumas poucas decepções em minha vida toda. A maior, porém, do tempo da infância, foi ter descoberto que o Papai Noel não passava de uma mentira, destinada a alegrar as ingênuas crianças. O tempo de Natal em nosso casarão de Bonfim era inteiramente atípico. Montava-se um enorme presépio, que ocupava a metade toda de um quarto. Meu pai era geralmente o construtor mestre da gruta e de todo o cenário, enquanto nós catávamos lodo no quintal, juntávamos pedras e admirávamos o Quive (assim chamávamos carinhosamente nosso pai), enquanto ele ia fazendo aparecer o belo cenário do nascimento de Jesus. Os presentes singelos mas muito esperados eram deixados dentro dos sapatos, colocados sempre atrás das portas, na certeza de que o Papai Noel chegaria pela madrugada, brindando-nos com presentinhos que nos deixavam cheios de felicidade e alegria. Pois bem. Na véspera de determinado Natal, quando eu deveria ter talvez uns oito anos ou nove, minha mãe, à noitinha, chamou Beatriz minha irmã e, em segredo, encarregou-a de ir à venda do Ilídio, com a incumbência de comprar os presentes de Natal da meninada. Minha irmã me chamou para acompanhá-la. Foi aí que a ficha caiu e eu compreendi que o tal Papai Noel não passava de mera ficção ou mentira. Que os presentes eram trazidos da capital por minhas irmãs que lá moravam. E como não puderam viajar para Bonfim naquele Natal, minha mãe  se vira na obrigação de suprir a função das filhas amorosas. Em silêncio curti minha decepção e a dor que senti, dor maior, certamente, por ver cair, sem preparação alguma psicológica, uma ilusão tão importante para minha alma de criança. Pelo menos em minha alma se gravou, na mesma ocasião, um sentimento de profunda admiração por minha mãe, reconhecendo seu amor oculto e seu sacrifício nas pequenas economias ajuntadas com vendas de verduras e com a acolhida aos pocuos hóspedes que ocupavam nosso hotelzinho de interiror. Agora eu pergunto:Será que vale a pena ainda hoje a mentira do Papai Noel? Terá um mínimo de valor educativo? Não será uma eterna fonte de traumas e desilusôres para os pequeninos?

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